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Pensamentos semanais - 2020

27.9.2020

XXVI Domingo do Tempo Comum, ano A (Dehonianos)

O “sim” que Deus nos pede não é uma declaração teórica de boas intenções, sem implicações práticas; mas é um compromisso firme, coerente, sério e exigente com o Reino, com os seus valores, com o seguimento de Jesus Cristo. O verdadeiro crente não é aquele que “dá boa impressão”, que finge respeitar as regras e que tem um comportamento irrepreensível do ponto de vista das convenções sociais; mas é aquele que cumpre na realidade da vida a vontade de Deus. (...)

Antes de mais, a parábola dos dois filhos chamados para trabalhar “na vinha” do pai sugere que, na perspectiva de Deus, todos os seus filhos são iguais e têm a mesma responsabilidade na construção do Reino. Deus tem um projecto para o mundo e quer ver todos os seus filhos – sem distinção de raça, de cor, de estatuto social, de formação intelectual – implicados na concretização desse projecto. 

20.9.2020

"Ide vós também para a minha vinha"*

​São João Crisóstomo

Esta parábola trata da conversão dos homens a Deus, alguns desde tenra idade, outros um pouco mais tarde e alguns somente na velhice. Cristo reprime o orgulho dos primeiros e impede-os de censurar os da décima primeira hora, mostrando-lhes que todos têm a mesma recompensa. Ao mesmo tempo, estimula o zelo dos últimos, mostrando-lhes que podem merecer o mesmo salário que os primeiros. O Salvador tinha acabado de falar da renúncia às riquezas e do desprezo por todos os bens, virtudes que exigem coragem e um coração grande. Precisava, por isso, de estimular o ardor de uma alma cheia de juventude; para tal, o Senhor reacende nos seus ouvintes a chama da caridade e fortalece-lhes a coragem, mostrando-lhes que mesmo os que chegaram por último recebem o salário do dia todo. […]

Para falar com mais clareza, poderia haver quem abusasse desta circunstância, caindo na indiferença e no desmazelo. Mas os discípulos perceberão claramente que essa generosidade é um efeito da misericórdia de Deus, que só ela os ajudará a merecer tão magnífica recompensa. […] Todas as parábolas de Jesus – a das virgens, a da rede, a dos espinhos, a da figueira estéril – nos convidam a mostrar a nossa virtude com atos. […] Ele exorta-nos a levar uma vida pura e santa. Ora, uma vida santa custa mais ao nosso coração que a simples pureza da fé, pois é uma luta contínua, um labor infatigável.

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(*) Disponível em <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2020-09-20>.

13.9.2020

A Força do Perdão (canção)

Sérgio Lopes

Perdoar
É muito mais que estender a mão
E dizer eu te perdoo, meu irmão
Usar a voz é fácil apertar a mão também
O difícil é revelar o coração
Mas se o coração perdoa é fácil perceber
Pois o coração é cúmplice do olhar
Perdão que sai do coração
É joia rara de encontrar
E está na sinceridade de um olhar

Se eu te machuquei, reconheço que errei
Eu agora percebi quanto mal eu te causei
Como vou falar de amor se eu não souber amar
Eu preciso de você para me ensinar
Eu me arrependi e revelei meu coração
Agora é sua vez de me ensinar uma lição
Preciso de você pra conhecer a dor
Ou conhecer a força do perdão

6.9.2020

"Onde estão dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles"

Tertuliano

Vivendo entre irmãos, servos do mesmo amo para quem tudo é comum -- a esperança, o receio, a alegria, o desgosto, o sofrimento (pois têm uma mesma alma, vinda do mesmo Senhor e Pai) --, porque crês que eles são diferentes de ti? Porque receias que aqueles que conheceram as mesmas quedas se regozijem com as tuas? O corpo não pode regozijar-se com o mal que acontece a um dos seus membros; aflige-se por inteiro e por inteiro se esforça por curá-lo.

30.8.2020

"Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz"

Santa Gertrudes de Helfa (1256-1301)

(monja beneditina)

Estando Gertrudes a rezar por uma pessoa que tinha proferido palavras de impaciência, perguntando por que razão Deus lhe enviava provações que não eram feitas para ela, o Senhor disse-lhe: "Pergunta-lhe quais são as provações que são feitas para ela e diz-lhe que, como é impossível entrar no Reino dos Céus sem passar por provações, escolha as que são feitas para ela e, quando estas lhe acontecerem, tenha paciência". Estas palavras do Senhor permitiram-lhe compreender que a forma mais perigosa de paciência é a pessoa imaginar que aceitaria bem ser paciente noutras ocasiões, mas que não pode sê-lo naquelas que Deus lhe envia, quando, pelo contrário, temos de estar seguros de que o mais vantajoso para nós é precisamente aquilo que Deus envia e que, se não conseguirmos suportá-lo com paciência, temos de tomar disso ocasião para a humildade.

23.8.2020

A fé como nova interpretação

 

Muitas vezes a interpretação que damos à nossa vida é inconsciente. Assumimos simplesmente modelos de interpretação de outras pessoas. E muitas vezes esses modelos são mais  estorvos para a vida. Se eu, por exemplo, interpreto minha doença como castigo de Deus, não estou prestando benefício algum a mim. A fé não se constitui de uma interpretação fixa. Ela nos interroga, antes, em tudo o que nos acontece, o que Deus quer dizer com isso, qual seria o sentido disso tudo. A fé não limita Deus, mas abre nosso espírito para o significado mais profundo do que acontece (...) A fé abre-me os olhos para que veja novas possibilidades, em vem de aferrar-me a um modelo negativo de interpretação. Ter fé não significa interpretar as coisas ao bel-prazer. O que importa é reinterpretar a realidade à luz de Deus.

Anselm Grün em "Virtudes que nos unem a Deus".

16.8.2020

Como Devemos Tratar uma Pessoa Que Nos Trata Injustamente?

São Paísios do Monte Atos

Devemos tratá-la como um grande benfeitor que faz depósitos a nosso favor na conta poupança de Deus. Ela está nos deixando eternamente ricos. Essa não é uma questão de menor importância. Nós não deveríamos amar os nossos benfeitores? Não deveríamos expressar a nossa gratidão por eles? Do mesmo modo, devemos amar e sermos gratos à pessoa que nos trata injustamente, porque ela nos beneficia eternamente. O injusto sofrerá um prejuízo eterno, enquanto os que aceitam a injustiça com alegria serão justificados eternamente.

Um homem de família piedoso havia sofrido muitas injustiças no trabalho. Mas ele era muito bondoso e suportou tudo sem reclamar. Ele veio à minha kalyvi uma vez e me falou disso e então me perguntou: “O que o senhor me aconselha a fazer?”. “O que você deve fazer”, disse eu, “é esperar a justiça divina e a recompensa divina e ser paciente. Nada se perde. Dessa forma, você está depositando ‘dinheiro’ no ‘banco de poupança’ de Deus. Com certeza você receberá dividendos na próxima vida, por todas as provações pelas quais está passando agora.

É bom que saiba que o Bom Senhor recompensa a pessoa tratada injustamente mesmo nesta vida. E, se Ele nem sempre a recompensa, Ele certamente o fará com os filhos dela. Deus sabe. Ele tem a providência para a Sua criatura. Onde há paciência, as coisas se ajeitam. Deus provê. Precisamos de paciência, não de lógica. Uma vez que Deus está assistindo, Ele está nos observando, devemos nos render incondicionalmente a Ele. Veja, o Justo José não disse nada quando seus irmãos o venderam como escravo. Ele poderia ter dito: ‘Eu sou irmão deles’. Mas não disse nada, até que Deus falou e fez dele rei (cf. Gênesis 37:20ss). Mas quando a pessoa não tem paciência, ela sofre. A partir daí ela quer que as coisas sejam do jeito dela, convenientes a ela e confortáveis a ela. Mas, é claro, ela não encontra conforto desse modo, e as coisas não saem do modo como ela quer que saiam”.

Quando alguém é injustiçado nesta vida, seja pelos homens, seja por demônios, Deus não se preocupa, porque, como conseqüência disso, a alma se beneficia. Muitas vezes, porém, nós dizemos que somos injustiçados, quando na realidade nós é que estamos prejudicando. Precisamos ter muito cuidado para distinguir uma coisa da outra.

9.8.2020

Esta proximidade de Ti...

 

na escuridão, é por demais simples e íntima para alvoroço. É lugar-comum que de noite todas as coisas têm uma vida surpreendente: mas essa vida é ilusória e irreal. A ilusão sonora intensifica a infinita substância do Teu silêncio.

Aqui em Gethsemani, neste lugar em que fiz meus votos, onde tive as mãos ungidas para o Sacrifício Sagrado, onde a profundidade e o cume íntimo do meu ser foram selados pelo Teu sacerdócio, uma palavra, um pensamento, perturbariam a tranquilidade do Teu inexplicável amor.

Thomas Merton em "Diálogos com o Silêncio".

2.8.2020

Despertar do dia

Raoni Duarte

Todos nós temos uma missão principal em comum: sermos um canal de manifestação do amor incondicional. E a forma como faremos isso é colocando nossos dons e talentos a serviço do bem maior, a serviço do melhor para o Todo. E por mais que você ainda esteja perdido, por mais que não esteja feliz com seu trabalho atual, lembre-se sempre da sua missão principal. E isso corresponde a dizer que você cumpre sua missão quando, independentemente do que esteja fazendo, você faz com amor, você faz com o coração.

26.7.2020

Amor e conhecimento tornando-se um

Richard Rohr

Maria Madalena é a pessoa no evangelho que, destacadamente, precisa que o amor seja mais forte que a morte, sendo, por conseguinte, a primeira a conhecê-lo - e, possivelmente, em nível mais profundo. Ela é a primeira pessoa que simbolicamente chega à "consciência" de Jesus como o Cristo ressuscitado e, portanto, é a clara "testemunha das testemunhas". Ela é a verdadeira conhecedora; de fato, amor e conhecimento se tornam um nela. Maria é o nome arquetípico de todos aqueles que foram levados pelo amor à consciência de seus Eus Verdadeiros, conhecendo sua verdadeira Fonte. (...) Ela é um exemplo para todos nós que buscamos um relacionamento íntimo e amoroso com o divino. 

19.7.2020

"Então os justos brilharão como o sol no Reino do seu Pai"

Santo Agostinho de Hipona

"Quando o que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir da imortalidade" (1Cor 15,54), o amor será perfeito, o júbilo será perfeito, um louvor sem fim, um amor sem ameaças. [...] E neste mundo? Não experimentaremos nenhuma alegria? [...] Seguramente que sim; neste mundo, experimentaremos, na esperança da vida futura, uma alegria da qual seremos plenamente saciados no Céu.

Mas é preciso que o trigo suporte muitas coisas no meio do joio. Os grãos são lançados à palha e o lírio cresce no meio dos espinhos. Com efeito, que foi dito à Igreja? «Tal como um lírio entre os cardos, assim é a minha amada entre as donzelas» (Ct 2,2). «Entre as donzelas», diz o texto, e não entre os estrangeiros. Ó Senhor, que consolações dás Tu? Que conforto? Ou melhor, que temor? Chamas espinhos às tuas próprias donzelas? São espinhos, responde Ele, pela sua conduta, mas são donzelas pelos meus sacramentos. [...]

Mas onde deverá o cristão refugiar-se para não gemer entre falsos irmãos? Para onde irá ele? Fugirá para o deserto? As ocasiões de queda segui-lo-ão. Distanciar-se-á para não ter de suportar os seus semelhantes? E se ninguém tivesse querido suportá-lo antes da sua conversão? Se, por conseguinte, a pretexto do seu progresso interior, não quer suportar ninguém, isso prova que tal progresso não é real. Escutai bem estas palavras: «Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportai-vos uns aos outros no amor, procurando manter a unidade do Espírito, pelo vínculo da paz» (Ef 4,2-3). Não há em ti nada que os outros tenham de suportar?

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Disponível em <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2020-07-19>.

12.7.2020

A responsabilidade do monge

A vida contemplativa não é nem pode ser uma simples evasão, uma pura negação, uma fuga do mundo em face dos seus sofrimentos, crises, confusões e erros. Antes de tudo seria uma ilusão essa tentativa. Ninguém pode retirar-se completamente da sociedade dos seus companheiros. E a própria comunidade monástica está profundamente integrada, para suas alegrias ou seus sofrimentos, nas estruturas econômicas, políticas e sociais do mundo contemporâneo. Esquecer ou ignorar esse fato não exime o monge da responsabilidade na participação de acontecimentos, ante os quais o seu próprio silêncio e o seu "não-tomar-conhecimento" poderão constituir uma forma de cumplicidade.

Thomas Merton em "Sementes de Destruição".

5.7.2020

A Vida Acontece Agora

Eckhart Tolle

Identificar-se com a mente é ser aprisionado no tempo: a compulsão de viver quase exclusivamente das recordações e por antecipação. Esta situação gera uma preocupação interminável com o passado e com o futuro e uma falta de vontade de dignificar e reconhecer o momento presente e permitir que este seja. A compulsão nasce porque o passado lhe dá uma identidade e o futuro contém a promessa de salvação, de realização sob qualquer forma. Ambos são ilusões.


Quanto mais a pessoa se concentra no tempo (passado e futuro), mais sente falta do Agora, a coisa mais preciosa que existe.


Porque é o Agora a coisa mais preciosa que existe? Primeiro, porque é a única. É tudo o que existe. O presente eterno é o espaço no âmbito do qual a sua vida se desenrola, o único fator que permanece constante. A vida acontece agora. Nunca houve uma altura em que a sua vida não fosse no agora, nem nunca haverá.


Em segundo lugar, o Agora é o único ponto que pode levar o leitor além dos limites circunscritos da mente. É o seu único ponto de acesso ao mundo eterno e sem forma do Ser.


Alguma vez o leitor experienciou, fez, pensou ou sentiu algo fora do Agora? Acha que alguma vez o fará? É possível que alguma coisa aconteça ou se dê fora do Agora? A resposta é óbvia, não é?


Nunca nada aconteceu no passado, mas sim no Agora. Nunca nada vai acontecer no futuro, mas sim no Agora.

28.6.2020

"Quem vos recebe, a Mim recebe"*

São João Crisóstomo (345-407)

presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla

"Quem acolher este menino em meu nome, é a Mim que acolhe", diz o Senhor (Lc 9,48). Quanto mais pequeno for esse irmão que se acolhe, mais Cristo estará presente nele. Porque, quando recebemos uma pessoa importante, é muitas vezes por vã glória que o fazemos; mas aquele que recebe um pequenino, fá-lo com uma intenção pura e por Cristo. "Eu era peregrino e recolhestes-Me", disse o Senhor. E ainda: "Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes" (Mt 25,35.40). Tratando-se de um crente e de um irmão, por mais pequeno que seja, é Cristo que com ele entra. Abre, pois, a porta de tua casa e acolhe-O.

 

"Quem recebe um profeta por ele ser profeta, receberá recompensa de profeta". Portanto, aquele que receber a Cristo, receberá a recompensa da hospitalidade de Cristo. Não ponhas em causa estas palavras, confia nelas. Ele próprio no-lo disse: "Neles, sou Eu que apareço". E para que não duvides, o Senhor decreta um castigo para aqueles que não O receberem, e honras para os que O receberem (Mt 25,31s); ora, não o faria se não fosse pessoalmente tocado pela honra ou pelo desprezo. "Acolheste-Me", diz, "em tua casa, Eu receber-te-ei no Reino de meu Pai. Libertaste-Me da fome, Eu te libertarei dos teus pecados. Visitaste-Me quando estava preso, Eu te farei conhecer a libertação. Acolheste-Me quando era estrangeiro, Eu farei de ti um cidadão dos Céus. Deste-Me pão, Eu te darei o Reino como herança e tua plena propriedade. Ajudaste-Me em segredo, Eu proclamá-lo-ei publicamente, chamando-te meu benfeitor e a Mim, teu devedor".

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(*) Disponível em <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2020-06-28>

21.6.2020

Experimentar Deus não é pensar sobre Deus. É sentir Deus a partir do coração puro e da mente sincera. Experimentar Deus é tirar o mistério do universo do anonimato e conferir-lhe um nome, o de nossa reverência e de nosso afeto. Experimentar Deus é desenvolver a percepção be-aventurada de que, na radicalidade de todas as coisas, Deus, universo, pessoa humana são um só mistério de enternecimento e de amorosidade que irrompeu em nossa consciência, fez história, ganhou sua linguagem e culminou na alegre celebração da vida

- Leonardo Boff em Experimentar Deus.

14.6.2020

Deus ilumina a todos

Felizmente para aqueles que declaram que o Cristianismo não detém direitos proprietários e exclusivos sobre Deus, como se Deus fosse um cristão de verdade, há uma extensa coleção de evidências bíblicas que sustentam tal argumento. (...) Jesus é a Luz que ilumina a todos, não só os cristãos.

- Desmond Tutu (Arcebispo Anglicano)

7.6.2020

O cristianismo foi enterrado dentro das paredes das igrejas e trancado com as algemas do dogmatismo. Deixe-o ser libertado para que venha ao nosso meio e nos ensine sobre liberdade, igualdade e amor.

- Minna Canth (1844-1897)

31.5.2020

O diálogo das religiões entre si*

Anselm Grün

Se nos compenetrarmos de que esse amor constitui o fundamento de todas as religiões, então temos aí uma boa base para o diálogo. Cada religião tem sua visão própria desse amor. Isto é legítimo. Não se trata de misturar as religiões umas às outras. Há vários modelos de interpretação de diferentes modos de pensar. Mas o ponto decisivo é que, atrás de todos esses conceitos e imagens, o amor aparece como um poder que constitui a base para todas elas.

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(*) Texto extraído do livro Amar é a única revolução, de Anselm Grün, Gerald Hüther e Maik Hosang, publicado pela editora Vozes Nobilis.

24.5.2020

Deus sendo Ele mesmo

Frei Richard Rohr

O misticismo franciscano tem uma visão de mundo encarnada, que é o profundo reconhecimento da presença do divino em literalmente "tudo" e em "todos". É a chave para a saúde mental e espiritual, bem como para um tipo de satisfação e felicidade básicas. Uma visão de mundo encarnada é a única maneira pela qual podemos reconciliar nosso mundo interior com o exterior, unidade com diversidade, físico com espiritual, indivíduo com corporativo e divino com humano.

10.5.2020

"Eu sou o caminho, a verdade e a vida"*

Santo Agostinho de Hipona

Ouçamos o Senhor: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida". Se procuras a verdade, segue o caminho; porque o caminho é também a verdade; ele é o teu destino e o teu percurso. Não é por outra coisa que vais a outra coisa; não é por outra coisa que vens a Cristo: é por Cristo que vens a Cristo. E como vais a Cristo por Cristo? Vais ao Cristo Deus pelo Cristo homem; pelo Verbo feito carne, vais ao Verbo que estava, no começo, em Deus; por aquilo que o homem comeu àquilo que os anjos comem todos os dias. Com efeito, está escrito: «Deu-lhes a comer do pão do Céu; o homem comeu o pão dos anjos» (Sl 77,24-25). O que é o pão dos anjos? "No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus" (Jo 1,1-3). Como foi que o homem comeu o pão dos anjos? "O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós" (Jo 1,14).

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(*) Disponível em <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2020-05-10>

3.5.2020

Jesus, Bom Pastor, protege-me!*

Santa Gertrudes de Helfta

Que a tua divina omnipotência, a tua sabedoria e a tua bondade, meu Deus, meu doce amor, me abençoem; que me façam caminhar no teu seguimento com vontade apressada, renunciar sinceramente a mim mesma e, com coração, espírito e alma zelosos, seguir-Te da maneira mais perfeita. [...]

 

"Escutai-me e ensinar-vos-ei o temor do Senhor" (Sl 33,12). Ah, Jesus, Bom Pastor, faz que eu oiça e reconheça a tua voz, que me liberta de tudo o que me impede de ser tua; faz-me repousar no teu seio, eu que sou a tua ovelha, que o teu Espírito tornou fecunda. E ensina-me a temer-Te; ensina-me a amar-Te; ensina-me a seguir-Te. [...]

 

"Aquele que habita na casa do Altíssimo terá a proteção do Deus do Céu" (Sl 90,1). Protetor da minha alma e meu refúgio no dia da solidão, defende-me de todas as tentações, cerca-me com a armadura da verdade. Fica comigo em todas as minhas tribulações, Tu que és a minha esperança, defende-me sempre de todos os perigos do corpo e da alma, e protege-me. [...] Ámen.

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(*) Disponível em <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2020-05-03>

26.4.2020

"Fica conosco"*

Santo Agostinho de Hipona

Irmãos, quando foi que o Senhor Se deu a conhecer? Ao partir o pão. Estejamos, portanto, tranquilos: ao partir o pão, reconheceremos o Senhor. Se Ele só quis ser reconhecido nesse instante, foi por nossa causa, foi para que não O víssemos na carne comendo da sua carne. Portanto, tu que crês nele, quem quer que sejas, tu que não tomas em vão o nome de cristão, tu que não entras numa igreja por acaso, tu que escutas a palavra de Deus em temor e esperança, para ti o pão partido será uma consolação. A ausência do Senhor não é uma ausência verdadeira. Tem confiança, mantém a fé e Ele estará contigo, ainda que não O vejas.

 

Quando o Senhor os abordou, os discípulos não tinham fé. Não acreditavam na sua ressurreição; nem sequer esperavam que Ele pudesse ressuscitar. Tinham perdido a fé; tinham perdido a esperança. Eram mortos que caminhavam ao lado de um vivo; caminhavam mortos juntamente com a vida. A vida caminhava com eles mas, no coração destes homens, a vida ainda não se tinha renovado.

 

E tu? Desejas a vida? Imita os discípulos e reconhecerás o Senhor. Eles ofereceram-lhe a sua hospitalidade; o Senhor parecia estar decidido a seguir o seu caminho, mas eles detiveram-no. […] Detém, também tu, o estrangeiro, se queres reconhecer o teu Salvador. […] Aprende onde podes procurar o Senhor, onde podes possuí-lo, onde podes reconhecê-lo: partilhando o pão com ele.

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(*) Disponível em <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2020-04-26>

19.4.2020

A natureza mostra casos de animais que, depois que nascem, quase não dependem dos pais. Autossuficientes, eles buscam os próprios caminhos. No entanto, o homem é uma das criaturas mais frágeis ao nascer e que necessita de cuidados intensos e prolongados. Aristóteles assinalava que somos animais políticos, isto é, precisamos viver em comunidade. Isto vale também para o campo afetivo: nascemos para amar e sermos amados.

 

Um dos fatos mais dolorosos é alguém que vive e morre abandonado. Ter amigos é um dos pilares da felicidade. E ajudar os outros é também uma forma de realização. Precisamos das pessoas durante toda a nossa existência, e tanto na vida social como religiosa.

O céu de definido por Dante como a Pátria do Amor, e o inferno, como a Cidade da solidão. 

Aldo Colombo em "O tempo de Deus".

12.4.2020

O primeiro dia da vida nova*

São Gregório de Nissa (335-395)

monge e bispo

 

Eis uma máxima de grande sabedoria: «No dia da felicidade, esquecemos todos os males» (Sir 11,25). Hoje foi esquecida a sentença lançada sobre nós; melhor, não foi esquecida, foi anulada! Este dia apagou qualquer lembrança da nossa condenação. Outrora, o parto ocorria com dor; agora, o nascimento é sem sofrimento. Outrora, éramos apenas carne, nascíamos da carne; hoje, o que nasce é espírito, nascido do Espírito. Ontem, nascíamos simples filhos de homens; hoje, nascemos filhos de Deus. Ontem, éramos os rejeitados dos Céus na Terra; hoje, Aquele que reina nos Céus faz de nós cidadãos do Céu. Ontem, a morte reinava por causa do pecado; hoje, graças à Vida, é a justiça quem toma o poder.

 

Outrora, um único homem abriu-nos as portas da morte; hoje, um único homem traz-nos de novo à vida. Ontem, perdemos a vida por causa da morte; mas hoje a Vida destruiu a morte. Ontem, a vergonha fazia-nos esconder debaixo da figueira; hoje, a glória atrai-nos para a árvore de vida. Ontem, a desobediência expulsou-nos do Paraíso; hoje, a fé permite-nos entrar nele. De novo nos é oferecido o fruto da vida, para que o saboreemos como quisermos. De novo a nascente do Paraíso, cuja água nos irriga pelos quatro rios dos evangelhos (cf Gn 2,10), vem refrescar o rosto da Igreja. […]

 

Com efeito, se nos espantamos por Cristo ter tido medo, sofrimento e dor, sendo Deus, também deveríamos espantar-nos por Ele ter tido fome, por ter tido sede, por ter dormido. Pois não era menos Deus por Se sujeitar a estes constrangimentos. [...]

 

Que fazer agora senão imitar, em seus saltos jubilosos, as montanhas e as colinas da profecia: «Montanhas, saltai como carneiros; e vós, colinas, como cordeiros!» (Sl 113,4). Vinde, cantemos de alegria no Senhor! (cf Sl 94,1). Ele quebrou o poder do inimigo e ergueu o grande troféu da cruz. […] Digamos, pois: «Grande é o Senhor, nosso Deus, Ele é o grande rei em toda a Terra!» (cf Sl 94,3; 46,3). Ele abençoa o ano coroando-o com os seus benefícios (cf Sl 64,12) e congrega-nos em coro espiritual, em Jesus Cristo, nosso Senhor, a quem pertence a glória pelos séculos dos séculos. Amém!

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[*] Disponível em <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2020-04-12>.

5.4.2020

Cristo Deus e Homem*

São Tomás Moro (1478-1535)

estadista inglês, mártir

 

Talvez alguém se pergunte, com espanto, como é que Cristo, nosso Salvador, sendo verdadeiro Deus, igual ao Pai omnipotente, conheceu a tristeza, o sofrimento e a dor. Tal não poderia acontecer, evidentemente, se, sendo Deus, Ele fosse apenas Deus, sem ser ao mesmo tempo homem. [...]

 

Na verdade, porém, uma vez que Ele era tão verdadeiramente Deus como verdadeiramente homem, parece-me que não é de espantar que tenha passado pelos vulgares sentimentos do género humano (contando ausente o pecado) enquanto homem, como não é de espantar que tenha feito milagres imensos enquanto Deus. [...]

 

Com efeito, se nos espantamos por Cristo ter tido medo, sofrimento e dor, sendo Deus, também deveríamos espantar-nos por Ele ter tido fome, por ter tido sede, por ter dormido. Pois não era menos Deus por Se sujeitar a estes constrangimentos. [...]

 

Cristo veio dar testemunho da verdade. Não faltava quem negasse que Ele era verdadeiramente homem. E, para remediar esta doença tão mortal, o nosso excelente e doce médico quis mostrar que era verdadeiramente homem.

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[*] Disponível em <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2020-04-05>.

29.3.2020

Perceber a dimensão interior

Yves Raguin, s. j.

É necessário que nos habituemos, na própria oração, a despertar em nós uma atenção constante à vida divina oculta aos nossos olhos.

Prestar atenção a ela já está agarrando-a e fazendo-a fluir de volta ao nosso espírito e coração. É tudo o que Deus espera de nós, essa humilde atenção ao que Ele faz no universo e na natureza humana. Prestamos atenção, quase que exclusivamente, às aparências das coisas, sem perceber sua prodigiosa dimensão interior.

Graças à fé, sabemos que este mundo não tem significado, exceto em Deus e por Deus. O mesmo deve ser dito de toda a nossa existência. Todo ato humano tem ressonâncias infinitas na ordem humana e, mais ainda, na ordem espiritual.

22.3.2020

O cego foi, lavou-se e voltou vendo*

São Gregório de Narek

monge e poeta armênio

 

Deus todo-poderoso, Benfeitor, Criador do Universo,

escuta os meus gemidos, pois corro perigo.

Liberta-me do medo e da angústia;

liberta-me com a tua força poderosa, Tu, que tudo podes. […]

 

Senhor Cristo, rasga as malhas desta rede que me envolve

com a espada da tua cruz vitoriosa, que é a arma da vida.

Por todos os lados esta rede me envolve, me aprisiona e me tem cativo, para me fazer perecer;

conduz ao repouso os meus cambaleantes e oblíquos passos.

 

Cura a febre que me sufoca o coração.

Perante Ti sou culpado, liberta-me da inquietação,

que é fruto da invenção diabólica,

faz desaparecer a escuridão da minha alma angustiada […].

 

Renova-me na alma a imagem de luz da glória do teu nome, grande e poderoso.

Intensifica o brilho da tua graça na beleza do meu rosto

e na efígie dos olhos do meu espírito, a mim, que do barro nasci (Gn 2,7).

 

Corrige em mim, refaz, com maior fidelidade, a imagem que reflete a tua (Gn 1,26).

Com a tua pureza luminosa faz desaparecer as minhas trevas, a mim, que sou pecador.

Inunda a minha alma com a tua luz divina, viva, eterna, celeste,

para que em mim se torne maior a semelhança com o Deus Trinitário.

 

Só Tu, ó Cristo, és bendito com o Pai

para louvor do teu Espírito Santo

pelos séculos dos séculos.

Amén.

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[*] Disponível em <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2020-03-22>.

15.3.2020

Três maneiras de enfrentar uma crise*

(Postado em 5 de março de 2020 pela equipe de "El Santo Nombre")

 

Sergio Cardona

 

Em relação à atenção e discernimento, gostaria de deixar um comentário de Juan Taulero, um dominicano abençoado, um místico de grande influência em San Juan de la Cruz, que escreve sobre o ano de 1300 e se pergunta sobre a crise dos monges que, aos 50 anos, deixam o mosteiro ou renunciam à sua vocação. Para ele, uma crise é uma junção de mudanças em qualquer aspecto de uma realidade organizada, mas instável. A mudança crítica é incerta quanto às suas consequências, que comprometem o desenvolvimento e o crescimento normais. Nas crises espirituais não há sabor, não há paz, é um estar esgotado. Não posso fazer nada, no entanto, devemos ver que a crise é obra de Deus. Descobrindo meu passado, é essencial amadurecer ... mas reagimos mal. Mesmo a oração ou o ascetismo não valem a pena. Deus trabalha pela minha vida.

Existem três maneiras de lidar com uma crise:

  • A Primeira É a fuga:

 

1. Recuso-me a olhar para mim, procuro a reforma do externo. Aguardo uma nova mudança.

2. Apegando-me às práticas de toda a vida de uma maneira formal, não encaro o interior.

3. Novas maneiras de agir incessantemente. Espero uma solução externa, consumismo espiritual. A vida espiritual tem um escalonamento que eu não aceito nem entendo.

É daí que os famosos giroscópios vêm, não há felicidade onde eles estão e mudam de lugar. Thomas de Kempis diz: "A mudança de lugar enganou muitos".

  • A segunda é inibição e endurecimento

 

1. Endurecimento das minhas práticas de piedade. Caio na dureza do coração e na intransigência. Só vale a forma externa, sem amor. Meus princípios são meus ídolos. Minha segurança são minhas convicções, não no encontro com o Deus vivo. Farisaísmo Existe medo.

2. Deus é um estranho, caímos em cisternas secas.

3. As freiras de Port Royal, puras como anjos e orgulhosas como demônios.

  • A terceira resposta é a correta: autoconhecimento de Deus, maturidade e interioridade:

 

1. É uma maneira dolorosa. Há verdades que eu não desejo nem quero ouvir, por isso endureço, mas devo continuar. É aqui que San Juan de la Cruz tem a ideia da noite escura.

2. Projeto meus erros nos outros. É um choque, mas me ajuda a amadurecer.

3. O Espírito Santo leva à abertura. E você tem que passar por um aperto, como uma cobra que muda a pele.

4. Quais são minhas motivações e atitudes? Observe a si mesmo e imagine. O que me leva a fazer o que faço?

5. Qual é a minha verdade sem autojustificativas.

6. Autoconfiança. Descubro minhas mentiras. Concentro a atenção em Cristo.

Dessa reação, obtemos um grande benefício: Serenidade:

1. Não é uma paz estoica.

2. É entregar minha vontade à vontade de Deus. Isso é dinâmico.

3. Deixar incluso o bem, é como uma noiva que muda o vestido. Há coisas que me serviram espiritualmente quando jovem, já como adulto são outras, as anteriores tiveram seu valor, mas no avanço espiritual descubro novos métodos que me valem mais do que os que costumava fazer quando criança e que me fazem crescer na fé.

4. Disposição para sofrer, passar por tensão. Como a mudança de pele da cobra.

5. Confiar no Espírito Santo de forma madura.

6. Fazer, fazer, fazer não vale, mas ... deixar Deus fazer. Entregar o coração. E então há uma segunda conversão na vida, é um novo nascimento de Jesus Cristo dentro de nós.

Penso que são ideias muito interessantes que até o próprio psiquiatra austríaco Carl Jung enfatiza: a crise da maturidade, dos 40-50, é uma crise espiritual cuja resposta está no interior. Dessa maneira, nosso discernimento e atenção ao essencial são muito diferentes da infância espiritual e nos fazem crescer.

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[*] Disponível na língua espanhola em <https://lahesiquia.wordpress.com/2020/03/05/tres-formas-de-afrontar-una-crisis/>. O texto reproduz um comentário de Sergio Cardona, no contexto da 6ª turma de Filocalia em "elsantonombre.org". Sergio é participante do curso e membro da Fraternidade Monástica Virtual.

8.3.2020

Para os homens é impossível [1]

 

María Jesús

Conversando com uma amiga, ela me disse como era difícil amar o próximo e, às vezes, as pessoas mais próximas a ela. Entendi muito bem sua angústia, porque também vivo essa impossibilidade. E a verdade é que eu adoraria que amar fosse algo fácil. Mas, eu não sei, você tem tantas decepções! Você acha que conhece os outros e não é assim. Muitas vezes você conhece apenas uma parte muito superficial ou o que eles querem mostrar. Você também se encontra com muito egoísmo. Ou você pensa que se doa muito e que não recebe nada.

E se amar os "amigos" já é difícil, quanto mais a relação com os inimigos... Às vezes me questiono por que os apóstolos perguntaram a Jesus como um homem rico poderia ser salvo e não perguntaram como devemos amar o próximo. Talvez eles tenham amado? Eu acredito que a resposta de Jesus teria sido a mesma que para os ricos: "Para os homens é impossível, mas Deus pode fazer tudo".

Se um mandamento tão importante é impossível para o homem cumpri-lo, creio que esta é uma demonstração de que a salvação está em Cristo e não em nossas obras, como São Paulo repete incansavelmente. E isso me leva à questão da gratuidade, da pobreza e de que tudo se resume em Jesus Cristo.
 

Por Cristo, com Ele e em Ele. Com Ele todos nós podemos. Ele justificou e nos redimiu. Eu acredito que todas as nossas impossibilidades são explicadas em Jesus. É inútil acreditar que nossas obras nos justificam. É bom sentir essa incapacidade e depois clamar a Jesus. No final, implorar a Jesus é a resposta para tudo.

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[1] Disponível na língua espanhola em <https://lahesiquia.wordpress.com/2020/02/25/para-los-hombres-es-imposible/>. A autora, María Jesús, é membro ativo da Fraternidade Monástica Virtual e autora do blog Soplo de la vida.

1.3.2020

Conhecimento do Corpo [1]

 

Resmaa Menakem

 

Nosso corpo tem uma forma de conhecimento diferente de nosso cérebro cognitivo. Esse conhecimento é tipicamente experimental como uma sensação de contração ou expansão, dor ou alívio, energia ou dormência. Muitas vezes, esse conhecimento é armazenado em nossos corpos como histórias sem palavras sobre o que é seguro e o que é perigoso.

 

O corpo é onde moramos. É onde tememos, esperamos e reagimos. É onde contraímos e relaxamos. E o que o corpo mais se importa é com segurança e sobrevivência. Quando algo acontece no corpo em demasia, muito rápido ou muito cedo, ocorre uma sobrecarrega física, podendo criar trauma.

O trauma não é primariamente uma resposta emocional. [Isso] sempre acontece no corpo. O trauma é uma resposta protetora do corpo a um determinado evento - ou a uma série de eventos - que [o corpo] percebe como potencialmente perigoso. Essa percepção pode ser precisa, imprecisa ou inteiramente imaginária.

Uma resposta de trauma embutida pode se manifestar como lutar, fugir ou congelar - ou como uma combinação de contração, dor, medo. . . comportamentos reativos ou outras sensações e experiências. Esse trauma fica preso no corpo - e permanece preso até ser resolvido.

A América está se despedaçando. Aparentemente, essa guerra parece o resultado natural de muitos confrontos sociais e políticos recentes. Mas não é. Esses conflitos não são nada recentes. Cento e cinquenta e seis anos atrás, eles geraram a Guerra Civil Americana. Mas mesmo na década de 1860, esses conflitos já tinham séculos de existência. Eles começaram na Europa durante a Idade Média, onde destruíram quase dois milhões de corpos brancos. A tensão resultante chegou à América incorporada nos corpos dos europeus e permaneceu nos corpos de muitos de seus descendentes. Nos últimos três séculos, essa tensão foi acalmada e aprofundada pela invenção da cor branca e a "racialização" resultante da cultura americana.

À primeira vista, a manifestação de hoje deste conflito parece ser uma luta pelo poder político e social. Porém, enquanto vemos raiva e violência nas ruas de nosso país, o verdadeiro campo de batalha está dentro de nossos corpos. Se queremos sobreviver como país, é dentro de nossos corpos que esse conflito precisará ser resolvido.

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[1] Adaptação feita por Richard Rohr de Resmaa Menakem, As mãos de minha avó: traumatismo racial e o caminho para consertar nossos corações e corpos (Central Recovery Press, 2017), xvii, 5, 7. Disponível em <https://cac.org/stuck-in-the-body-2020-02-20/>.

23.2.2020

A arte de amar a Deus

São Máximo

o Confessor (c. 580-662), monge, teólogo

Bem-aventurado o homem que sabe amar todos os homens igualmente. Bem-aventurado o homem que não se prende a nada que seja corruptível e passageiro. [...]

 

Aquele que ama a Deus também ama totalmente o seu próximo. Esse homem não sabe guardar o que tem, antes o dispensa como Deus, dando a cada um aquilo de que tem necessidade. Aquele que dá esmola, à imitação de Deus, ignora a diferença entre o mau e o bom, o justo e o injusto (cf Mc 5,45), quando os vê sofrer. Mas dá igualmente a todos, segundo as suas necessidades, ainda que prefira, pela sua boa vontade, o homem virtuoso ao homem depravado. Assim como Deus, que é por natureza bom e impassível, ama igualmente todos os seres como obra sua, mas glorifica o homem virtuoso porque este está unido a Ele pelo conhecimento e, na sua bondade, tem piedade do homem depravado e fá-lo voltar instruindo-o neste mundo, assim também aquele que, pelo seu movimento próprio, é bom e impassível ama igualmente todos os homens: ama o homem virtuoso pela sua natureza e a sua vontade boa; e ama o homem depravado pela sua natureza e a sua compaixão, porque tem piedade dele como dum louco que avança nas trevas.

Não é só partilhar o que se tem que revela a arte de amar, ainda mais o revela transmitir a palavra e servir os outros nos seus corpos. [...] "Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem".

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Disponível em espanhol em <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2020-02-23>.

16.2.2020

Imersos no mundo

María Jesús

 

Conheço pessoas que acreditam que, para terem uma vida de profunda união com Deus, precisam se retirar do mundo. Há também quem pense que viver em um mundo como o de hoje corre o risco de ser influenciado, "contaminado", confuso ou escandalizado. Há pessoas que, na juventude, optaram por uma vida consagrada ou contemplativa, mas as circunstâncias da vida ou mesmo o exercício de sua própria liberdade as levaram a sair dela, e passam o resto da vida ansiando por tal condição, culpando-se ou acreditando que seu relacionamento com Deus está incompleto.

 

Jesus, ao passar por este mundo na condição humana, viveu uma vida normal, com sua família, seu trabalho, seus amigos. Retirava-se para orar na solidão, mas depois voltava à agitação diária. Claro que existem pessoas que Deus chama para uma vida reclusa, mas esse chamado não é para todos. Muitos de nós são chamados a viver profundamente o relacionamento com Deus no mundo. Há pessoas que lamentam que os mosteiros estejam vazios. Mas enclausurar-se não é garantia de viver a presença de Deus, pois se pode viver uma vida solitária e não estar na contínua presença do Altíssimo; pelo contrário, pode-se estar imerso no mundo, nas ruas lotadas de pessoas, com milhares de obrigações diárias, e, mesmo assim, muito perto de Deus. É algo como estar apaixonado. Quando você está, a pessoa amada o acompanha em todos os lugares, estando ao seu lado ou não. Portanto, o importante é se apaixonar por Deus, onde quer que você esteja.

A presença de Deus é como um fogo que carregamos dentro de nós. Esse fogo é alimentado em nossa oração diária, naqueles momentos de silêncio e solidão que buscamos todos os dias para que ele não se apague. O que nos separa da presença de Deus não é estar no mundo, mas não termos esses momentos de intimidade com Ele. Repetir o nome de Jesus também alimenta esse fogo. E às vezes esse o fogo cresce de tal maneira que não precisamos repetir nem mesmo o seu Nome, o Espírito ora em nós.

Esse fogo alimentado em oração não pode ser apagado pela influência do mundo. Se temos medo de nos desviar da estrada ou de nos perder, buscando a proteção com a fuga das atividades diárias, talvez seja porque esse fogo está muito fraco em nós. Portanto, a solução não é fugir do mundo, não é fugir da nossa condição de cristãos no mundo, até porque, como cristãos, somos chamados a ser a luz do mundo. A solução é intensificar a oração.

Também há pessoas que se sentem feridas por acreditarem que não foram fiéis à vocação recebida ou por sentirem que estão onde não deveriam. Talvez seja reconfortante saber que Deus fala por meio das circunstâncias da vida e que tudo está sob seu olhar. E talvez essa insatisfação, esse arrependimento, atue nelas como um incentivo para fazerem muito mais bem aos outros do que teriam feito em suas vocações que imaginam como "perdidas".

O encontro com Deus sempre ocorre no presente. E às vezes gastamos muita energia acreditando que estamos onde não deveríamos estar. E é aqui, e é agora que Deus vive em nós. Nada e ninguém pode apagar o fogo que vive dentro de nós.

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Disponível em espanhol em <https://lahesiquia.wordpress.com/2020/01/29/inmersos-en-el-mundo/>.

9.2.2020

Jesus ilumina o espaço do coração

 

Hesíquio do Sinai

dito de Batos, por vezes assimilado a Hesíquio,

sacerdote de Jerusalém (séc. V?), monge

 

O sal sensível dá sabor ao pão e a todos os alimentos, impede certas carnes de apodrecerem, conservando-as durante muito tempo. Considera que o mesmo acontece com a guarda da inteligência, pois ela cumula de sabor divino tanto o homem interior como o homem exterior, expulsa o odor fétido dos maus pensamentos e permite-nos perseverar no bem. De uma sugestão nascem numerosos pensamentos e destes más ações sensíveis; mas quem, com Jesus, apaga imediatamente a primeira, evita as suas consequências e poderá enriquecer-se com o suave conhecimento divino pelo qual encontrará Deus, que está presente em toda a parte.

 

Estando o espelho da inteligência diante de Deus , é continuamente iluminado, à imagem do puro cristal e do sol sensível. Então, tendo alcançado o cume definitivo dos desejos, a inteligência repousa nele de qualquer outra contemplação. [...] Quem olha o sol não pode deixar de ficar com os olhos inundados de luz. Da mesma maneira, quem se debruça permanentemente sobre o espaço do seu coração não pode deixar de ficar iluminado. [...] Quando as nuvens se dissipam, o ar fica limpo; da mesma maneira, quando os fantasmas das paixões se dissipam diante de Jesus Cristo, o Sol da Justiça, nascem no coração pensamentos luminosos, semelhantes às estrelas. Pois Jesus ilumina o espaço do coração..

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Disponível em <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2020-02-09>

2.2.2020

"Simeão recebeu-O em seus braços e bendisse a Deus"

Beato Guerric de Igny (c. 1080-1157)

Abade cisterciense.

«Tende nas mãos as vossas lâmpadas acesas» (Lc 12,35). Mostremos, através deste sinal visível, a alegria que partilhamos com Simeão, que tem nas mãos a luz do mundo. [...] Sejamos ardentes pela devoção e luminosos pelas obras, e, com Simeão, levaremos Cristo em nossas mãos. [...] Hoje, a Igreja sugere-nos que acendamos velas. [...] Com a nossa vela acesa na mão, certamente nos lembramos do bem-aventurado ancião. Nesse dia, ele tomou Jesus nos braços, o Verbo presente na carne, semelhante à luz na cera, testemunhando que Ele era «luz para se revelar às nações». É verdade que o próprio Simeão era «uma luz ardente e brilhante», que prestava homenagem à luz (Jo 5,35; 1,7). Foi por isso que veio ao Templo, conduzido pelo Espírito, do qual estava repleto, «para receber, ó Deus, a tua misericórdia no meio do teu Templo» (Sl 47,10) e proclamar que ela é a misericórdia e a luz do teu povo.

 

Tu, ancião cintilando de paz, não tinhas a luz apenas em tuas mãos, mas foste penetrado por ela. Estavas tão iluminado por Cristo que viste antecipadamente que Ele iluminaria as nações [...], que hoje resplandeceria o brilho da nossa fé. Regozija-te agora, santo ancião; vê hoje o que tinhas entrevisto antecipadamente: as trevas do mundo dissiparam-se, «as nações caminham à sua luz», «toda a Terra está repleta da sua glória» (Is 60,3; 6,3).

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Disponível em <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2020-02-02>

26.1.2020

"Para aqueles que habitavam na sombria região da morte, uma luz se levantou"

São Columbano (563-615)

Monge e fundador de mosteiros.

 

Cristo, digna-Te acender pessoalmente as nossas candeias, Tu que és o nosso Salvador; fá-las brilhar sem fim na tua morada e receber de Ti, luz eterna, uma luz indefectível. Que a tua luz dissipe as trevas e, através de nós, faça recuar as trevas do mundo. Peço-Te pois, Jesus, que acendas a minha candeia com a tua própria luz, e que assim, com essa claridade, eu possa ver o Santo dos Santos, onde Tu, Pai Eterno dos tempos eternos, dás entrada nos pórticos desse Templo imenso (cf Heb 9,11ss). Que, sob a tua luz, nunca deixe de Te ver e de dirigir para Ti o meu olhar e o meu desejo. Então, só Te verei a Ti no meu coração, e na tua presença a minha candeia ficará para sempre acesa e ardente.

Dá-nos a graça […], visto que batemos à tua porta, de Te manifestares a nós, Salvador cheio de amor. Compreendendo-Te melhor, que não tenhamos amor senão para Ti, só para Ti. Que sejas, noite e dia, o nosso único desejo, a nossa única meditação, o nosso pensamento contínuo. Digna-Te derramar em nós todo o amor necessário para que possamos amar a Deus como convém. Enche-nos do teu amor […] até que não saibamos amar-Te senão a Ti, que és eterno. Então as águas caudalosas do céu, da Terra e do mar não poderão apagar em nós tão grande caridade, como lemos no Cântico dos Cânticos: «As águas caudalosas não conseguirão apagar o fogo do amor» (8,7). Que se realize em nós, pelo menos em parte, esse crescendo de amor, pela tua graça, Senhor Jesus.

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Disponível em <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2020-01-269>

19.1.2020

"Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo"

São Cirilo de Alexandria (380-444)

bispo, doutor da Igreja.

"Cantai, ó céus, a obra do Senhor! Exultai de alegria, ó profundezas da Terra! Saltai de júbilo, vós, montanhas, e tu, bosque, com todas as tuas árvores, porque o Senhor resgatou Jacob, manifestou a sua glória em Israel" (Is 44,23). Pode-se facilmente concluir desta passagem de Isaías que a remissão dos pecados, a conversão e redenção dos homens, anunciada pelos profetas, se cumpre em Cristo nos últimos dias. Com efeito, quando Deus, o Senhor, nos apareceu, quando Se fez homem, vivendo com os habitantes da Terra, Ele que é o verdadeiro Cordeiro que tira o pecado do mundo, Ele que é a vítima totalmente pura, que grande motivo de júbilo tal não foi para as forças do alto e os espíritos celestiais, para todas as ordens dos santos anjos! Eles cantaram o seu nascimento segundo a carne: "Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens do seu agrado" (Lc 2,14).

Se é verdade, conforme a palavra do Senhor – e é absolutamente verdade –, que «haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte» (Lc 15,7), como duvidar de que houve alegria e júbilo nos espíritos do alto quando Cristo trouxe à Terra inteira o conhecimento da verdade, chamou à conversão, justificou pela fé, tornou brilhante de luz pela santificação? «Os céus rejubilam porque Deus teve misericórdia», não apenas para com Israel segundo a carne, mas para com Israel compreendido segundo o espírito. «Os fundamentos da Terra», ou seja, os ministros sagrados da pregação do Evangelho, «tocaram a trombeta». A sua voz retumbante chegou a toda a parte; como as trombetas sagradas, ela ressoou em toda a parte. Eles anunciaram a glória do Salvador por todos os lugares, chamaram ao conhecimento de Cristo tanto os judeus como os pagãos.

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Disponível em <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2020-01-19>

12.1.2020

O batismo de Jesus

São Jerônimo (347-420)

presbítero, tradutor da Bíblia, doutor da Igreja

 

"Naquele tempo, Jesus chegou da Galiléia e veio ter com João Batista ao Jordão, para ser batizado por ele". O Salvador recebeu o batismo de João por três razões. A primeira, porque, tendo nascido homem, queria cumprir todas as prescrições da lei, incluindo as mais humildes; a segunda, para sancionar o batismo de João por meio do seu batismo; a terceira, para manifestar, santificando a água do Jordão pela descida da pomba, a vinda do Espírito Santo aquando do batismo dos fiéis.

 

"Deixa por agora": diz "agora" para mostrar que, se Cristo devia ser batizado na água, João devia sê-lo por Cristo no Espírito. Outro sentido: "Deixa por agora" porque Eu, que assumi a forma de escravo, quero viver toda a humildade dos escravos. Mas também, ficas a saber que, no dia do Juízo, tu terás de ser batizado no meu batismo. "Deixa por agora", diz o Senhor, também Eu tenho um batismo com o qual tenho de ser batizado [o batismo da Paixão]; tu batizas-Me na água para que Eu te batize no teu sangue [em referência ao batismo de João pelo martírio].

 

"Convém que assim cumpramos toda a justiça". Não acrescentou que se tratava da justiça da Lei nem da justiça da ordem natural, para que incluíssemos as duas. Se Deus recebeu o batismo de um homem, ninguém deve julgar-se indigno de recebê-lo de um companheiro de servidão.

 

"Então, abriram-se os céus e Jesus viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e pousar sobre Ele": o mistério da Trindade manifestou-se neste batismo. O Senhor foi batizado, o Espírito Santo desceu com o aspeto de uma pomba e ouviu-se a voz do Pai dando testemunho do Filho. Os céus abriram-se, não porque os elementos se tenham afastado: os céus abriram-se aos olhos do espírito, os olhos com os quais também Ezequiel os viu abertos, como relata no começo do seu livro (Ez 1,1). A pomba veio poisar sobre a cabeça de Jesus para que não pensássemos que a palavra do Pai era acerca de João, e não de Jesus.

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Disponível em <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2020-01-12>

5.1.2020

"Ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra"

Santa Gertrudes de Helfta (1256-1301)

monja beneditina

 

Na solene festa da Epifania, com base no modelo das oferendas dos reis, Gertrudes ofereceu a Deus, à laia de mirra, o corpo de Cristo, com todos os seus sofrimentos e toda a sua Paixão, por meio da qual queria apagar, para glória de Deus, os pecados de todos os homens, desde Adão até ao último homem. No lugar do incenso, ofereceu a alma de Cristo, cheia de devoção, com todos os atos da sua vida espiritual, para compensar as negligências de todo o universo. Por fim, à laia de ouro, ofereceu a divindade perfeitíssima de Cristo, com as delícias de que ela goza, para compensar as deficiências de todas as criaturas. Apareceu-lhe então o Senhor Jesus, apresentando esta oferenda como presente de grande valor à sempre adorável Trindade. E enquanto Ele atravessava, por assim dizer, o Céu, a corte celeste parecia fletir o joelho por respeito a esta oferenda. [...]

 

Gertrudes recordou então que certas pessoas, num gesto de humildade, lhe tinham pedido que oferecesse a Deus, no lugar delas e em memória destes presentes dos magos, as pequenas orações que tinham dirigido ao Senhor antes desta mesma festa. Tendo cumprido este pedido com toda a devoção possível, o Senhor Jesus voltou a aparecer-lhe, transportando pelo Céu esta segunda oferenda, como que para apresentá-la a Deus Pai. E todo o exército celeste acorreu à sua presença, celebrando os louvores desta oferenda como se se tratasse de um presente magnífico.

 

Deste modo, ela compreendeu que quando alguém oferece a Deus orações ou outros esforços, todo o senado do Céu aplaude este dom como oferenda agradável a Deus. Mas quando alguém, não se contentando em dar o que é seu, junta às suas próprias obras as obras - mais perfeitas - do Filho de Deus, os santos têm por essa oferenda [...] uma tal reverência que nada pode aspirar a tão alta dignidade a não ser a única e adorável Trindade, que está acima de tudo.

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Disponível em <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2020-01-05>

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