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Espaço Thomas Merton

Reflexões de Thomas Merton - 2020

Natal.2020

Sobre o Natal

"O Natal não é apenas um doce retorno ao leite materno e à infância. É uma festa séria e, algumas vezes, difícil. Difícil particularmente se, por motivos psicológicos, não conseguimos assimilar seu indestrutível cerne de esperança nele contido. Se estivermos buscando apenas uma pequena consolação, poderemos nos desapontar.

Thomas Merton em "The Road to Joy", Letters, p. 10.

dezembro.2020

Se a nossa vida...

"é dissipada em palavras inúteis, jamais ouviremos qualquer coisa no fundo do nosso coração, onde Cristo vive e fala em silêncio. Nunca seremos nada, e no fim, ao chegar a hora de mostrarmos quem somos, apareceremos sem nada a dizer no momento da decisão crucial: havemos dito tudo e estaremos exaustos de falar antes mesmo de termos alguma coisa a dizer.

Thomas Merton em "Homem algum é uma ilha".

novembro.2020

O recolhimento.

"É UMA TRANSPOSIÇÃO DE FOCO, que harmoniza toda a nossa alma com o que está além e acima de nós. E uma “conversão”, uma “volta” do nosso ser às coisas espirituais e a Deus. Como são simples as coisas espirituais, o recolhimento é também uma simplificação do nosso estado de espírito e da nossa atividade espiritual. Tal simplificação nos confere aquela paz e visão das coisas que Jesus proclama ao dizer: “Se o teu olho é simples, todo o teu corpo será luminoso” (Mt 6,22).

Thomas Merton em "Homem algum é uma ilha".

outubro.2020

Encontrar o sentido da existência.

"O Novo Testamento afirma que a plena manifestação de Deus é, de fato, uma kénosis, um esvaziamento em que Deus se torna homem e se submete até a morte sob o poder dos homens (Cf. Filipenses, 2, 5-11). A palavra de Deus é, agora, não só acontecimento, evento, mas uma pessoa, e todo o sentido e conteúdo da Bíblia deve estar, segundo os Apóstolos, não na mensagem sobre o Cristo, mas no encontro com o Cristo que é ao mesmo tempo pessoa e palavra de Deus e que vive como o Senhor ressuscitado. A plenitude da Bíblia é, pois, (para os cristãos) o encontro pessoal com Jesus Cristo no qual este é reconhecido como “aquele que é enviado” (o Messias ou o ungido do Senhor, Kyrios, Christos). Nele estão contidas todas as perguntas e todas as respostas, toda a esperança e todos os sentidos, todos os problemas e todas as soluções. Assumir um compromisso total com essa pessoa e participar do acontecimento que é a sua vinda, sua morte e sua ressurreição é encontrar o sentido da existência, não racionalizando-a, mas vivendo-a como ele o fez.

Thomas Merton em "Que livro é este?".

setembro.2020

A realidade crua das coisas.

"A vida solitária, sendo silenciosa, varre a cortina de fumaça composta de palavras que o homem estabeleceu entre sua mente e as coisas. Na solidão, permanecemos diante da realidade crua das coisas. E, no entanto, descobrimos que a crueza da realidade que nos inspirou temor não é a causa nem de temor nem de vergonha. Está revestida da amável comunhão do silêncio, e esse silêncio está relacionado com o amor. O mundo, que nossas palavras tentaram classificar, controlar e até mesmo desprezar (porque não podiam contê-lo), se aproxima de nós, pois o silêncio nos ensina a conhecer a realidade respeitando-a lá onde as palavras a profanaram.

Thomas Merton em "Na liberdade da solidão".

agosto.2020

Uma questão de extrema importância.

"O homem de oração que tanto se familiarizou com as verdades de fé no estudo e na meditação e as pode relembrar numa simples intuição, só por isto não se torna automaticamente contemplativo. A oração contemplativa não consiste, estritamente, numa seca visão de poucos segundos. Ela absorve a mente e a vontade num olhar prolongado, frutuoso e amante, em que a intuição da verdade divina não acaba num instante mas permanece em nós e invade o nosso ser com insuspeitadas profundezas de sentido. Esta intuição cativa por um obscuro e inexplicável encanto. Ela não nos deixará escapar do oculto poder que trabalha nas profundezas do espírito, embora seja difícil falar do que nos acontece.

Thomas Merton em "Ascensão para a verdade".

julho.2020

Que a mudança venha por dentro.

"Quanto a mim, eu agora me dou conta de que preciso de mais. Não apenas de estar tranquilo e ser mais ou menos produtivo, de rezar, ler, cultivar o ócio – otium sanctum! Há uma necessidade de esforço que vá mais fundo, de mudança e transformação. Não que eu tenha de levar a cabo um projeto especial de autotransformação ou que deva "trabalhar sobre mim". A respeito, melhor seria esquecer isso. Simplesmente sair para caminhadas, viver em paz, deixar que a mudança venha por dentro, silenciosa e invisivelmente.

Tenho porém um passado com o qual romper, um acúmulo de inércia, desperdício, desacerto, bobices, baboseiras, refugos, uma grande necessidade de clarificar a ligação da mente, ou melhor, de "não ligar" – um retorno à prática genuína, ao esforço certo, necessidade de prosseguir com empenho para a grande dúvida. Necessidade do Espírito.


Confiar na clara luz!

Thomas Merton em "Merton na Intimidade".

junho.2020

Por que não podemos acreditar logo nisso? 

"Há uma declaração de Gandhi que resume com nitidez e de modo conciso toda a doutrina da não-violência: “O caminho da paz é o caminho da Verdade”. “Ser verdadeiro é ainda mais necessário do que ser pacífico. De fato, a mentira é a mãe da violência. Um homem que diz a verdade não pode por muito tempo permanecer violento. Há de perceber, no meio de sua procura, que não precisa ser violento, e descobrirá ainda que, enquanto houver nele o menor sinal de violência, não conseguirá encontrar a verdade que procura”. Por que não podemos acreditar logo nisso? Por que duvidamos? Por que nos parece impossível? Simplesmente porque somos todos, até certo ponto, mentirosos.”

Thomas Merton em Reflexões de um espectador culpado.

maio.2020

Contempla-ação 

"A contemplação não pode construir um novo mundo sozinho. A contemplação não alimenta os famintos; não veste o nu; não ensina os ignorantes; e não devolve o pecador à paz, à verdade e união com Deus. Mas sem contemplação não podemos ver o que fazemos no nosso apostolado. Sem contemplação não podemos entender o significado do mundo em que devemos agir. Sem contemplação continuamos pequenos, limitados, divididos, parciais: aderimos ao insuficiente, unidos permanentemente ao nosso estreito grupo e aos seus interesses, perdendo de vista a justiça e caridade, apreendidos pelas paixões do momento, e, finalmente traímos Cristo. Sem contemplação, sem a busca secreta íntima, silenciosa da verdade através do amor, nossa ação perde-se no mundo e torna-se perigosa.”

Thomas Merton em Essential Writings.

3.5.2020

Yo creo! 

"Antes de qualquer um reerguer a cabeça, uma límpida exclamação do irmão de hábito marrom cortou o silêncio com as palavras: “Yo creo…”, que imediatamente todas as crianças repetiram com vozes tão altas e fortes e claras, e com tal unanimidade e tal significação e fervor, que algo ecoou dentro de mim como um trovão e, sem ver nada nem perceber nada de extraordinário por intermédio de algum dos meus sentidos (meus olhos só estavam abertos precisamente para o que ocorria na igreja), com a certeza mais absoluta e inquestionável eu soube que diante de mim, entre mim e o altar, nalgum ponto no centro da igreja, no alto, no ar (ou em qualquer outro ponto, posto que em lugar nenhum), mas diretamente diante dos meus olhos, ou diretamente presente para alguma indefinida percepção minha que estava além da dos sentidos, Deus estava ao mesmo tempo em toda a Sua essência, em todo o Seu poder, Deus na carne e Deus em Si e Deus cercado pelas faces radiantes dos milhares, dos milhões de números inimagináveis de santos contemplando a Sua Glória e louvando o Seu Santo Nome. A certeza inabalável, o conhecimento claro e imediato de que o céu estava bem na minha frente me atingiu como um raio e me percorreu como um clarão e pareceu me levantar, puro, do chão” .

Thomas Merton na Intimidade

26.4.2020

Que significa Liberdade Interior? 

"Significa desapego e libertação diante de preocupações desordenadas. E, assim, podemos utilizar as coisas boas desta vida e também viver sem elas por amor a ideais e fins mais elevados. Significa a capacidade de utilizar ou de sacrificar todas as coisa criadas aos interesses do amor."

Thomas Merton em "Oração Contemplativa"

19.4.2020

Inexprimível ardor de gratidão. 

"Temos de compreender que os nossos atos virtuosos e as nossas boas obras não são feitas simplesmente par a satisfazer a fria obrigação de uma lei impessoal. São uma resposta pessoal de amor ao desejo de um Coração humano cheio de divino amor por nós. O Sagrado Coração do Salvador ressuscitado comunica ao nosso íntimo ser todo e qualquer impulso de graça e caridade, pelo qual partilha conosco a sua vida divina. A nossa resposta é, pois, uma resposta às inspirações calorosas e delicadas do amor pessoal do Senhor por nós. Esta compreensão não só desvia a nossa atenção de nos próprios para Ele, como provoca uma esperança mais profunda e vital, e desperta nos nossos corações uma fé mais frutuosa e dinâmica. E enche a nossa vida cristã com um inexprimível ardor de gratidão e com uma consciência transcendente do que significa sermos filhos de Deus, porque o Filho unigênito do Pai nos amou até ao ponto de morrer por nós na cruz, para que pudéssemos ser unidos no seu amor."

Thomas Merton em "Vida e Santidade"

12.4.2020

Páscoa: a vida nova. 

"Nossa vida nova em Cristo não é algo que possuímos de maneira permanente e garantida, entregue à nossa direção, uma “propriedade” definitivamente nossa. Estamos ainda suspensos sobre o abismo e podemos ainda cair no terrível temor do homem alienado que perdeu a confiança. Permanece todavia o fato de que, se consentimos nisso, a graça e a confiança se renovam a cada momento em nossas vidas. Não são uma posse permanente, mas um dom sempre atual do amor de Deus. Para termos essa liberdade de continuar, devemos crer, realmente, no poder de Deus para nos santificar e manter-nos santos. Temos de ousar ser santos pelo poder de Deus. Temos de ousar ter um santo respeito, uma reverência por nossa pessoa, pois fomos remidos e somos santificados pelo sangue de Cristo."

Thomas Merton em "Tempo e Liturgia"

5.4.2020

Dar-se ao seu irmão. 

"É o homem em Cristo que tem a missão não só de se fazer humano, mas de se tornar divino pelo dom do Espírito de Amor. Esta não apenas é uma operação abstrata e contemplativa. O amor é medido por sua atividade e por seu poder transformador. O cristianismo não ensina o homem a atingir um ideal interior de divina tranquilidade e estoica serenidade, separando-o das coisas materiais. Ensina-o a dar-se ao seu irmão e ao seu mundo em um serviço de amor no qual Deus manifestará seu poder criador através dos homens na Terra."

Thomas Merton em "Amor e vida"

29.3.2020

Pão a quem tem fome. 

"Infelizmente, o verdadeiro conceito cristão do amor tem sido depreciado, às vezes, por aqueles que o sentimentalizaram ou formalizaram de uma forma ou de outra. Uma disposição subjetiva sincera de amar a todos não dispensa de uma ação social enérgica e sacrificial para restaurar os direitos violados dos oprimidos, para criar trabalho para os desempregados, de modo que o faminto possa comer e que todos tem a chance de ganhar um salário decente. Infelizmente foi fácil demais para o homem bem alimentado no passado nutrir os sentimentos mais louváveis de amor ao próximo, ignorando, ao mesmo tempo, o fato de seu irmão estar lutando para resolver problemas trágicos e insolúveis.

Apenas dar esmolas não é mais adequado, especialmente se for só um gesto que parece dispensar qualquer outra ação social mais eficaz."

Thomas Merton em "Amor e vida"

22.3.2020

O jejum como participação do Mistério Pascal de Jesus Cristo. 

"Até certo ponto, essas razões são verdadeiras; não bastam, porém, em si, explicar o jejum quaresmal. O jejum não é mera disciplina natural e ética para o cristão. É verdade que São Paulo evoca a clássica comparação do atleta em treinamento. O propósito do jejum cristão, no entanto não é simplesmente revigorar o organismo nem suprimir gordura inútil e pôr o corpo, tanto quanto a alma, em boa forma para a Páscoa. O sentido religioso do jejum quaresmal é mais profundo. Nosso jejum deve ser considerado no contexto de vida e morte. […] O cristão deve negar-se, seja jejuando, seja de outro modo qualquer, de maneira a tornar clara sua participação no mistério pascal: o mistério de nosso sepultamento com Cristo para ressuscitarmos com Ele a uma vida nova. Ora, isso não pode ser simplesmente questão de “atos interiores” e “boas intenções”. Não deve ser algo puramente “mental” e subjetivo. É por isso que o jejum é proposto ao cristão por uma longa tradição e pela própria Bíblia como uma forma concreta de expressar a abnegação, a imitação de Cristo, participando em seus mistérios."
 

Thomas Merton em "Tempo e Liturgia"

15.3.2020

Sobre o jejum quaresmal 

"Isso nos leva ao sentido do jejum quaresmal. Não a que o alimento seja mau, ou que as satisfações naturais sejam algo que Deus nos permite constrangido, preferindo privar-nos delas sempre que possa.

O jejum é uma coisa boa porque o alimento, em si é bom. No entanto, as boas coisas deste mundo estão sujeitas à seguinte lei: são boas em seu tempo, e não fora dele. O alimento é bom, mas comer constantemente é mau e, em realidade, nem é muito agradável. Alguém que se farta com a comida e a bebida goza muito menos com se ter fartado do que aquele que jejua, com sua refeição frugal.

O próprio jejum, moderado e de acordo com a vontade de Deus, é algo de agradável. Há alegrias naturais, sadias, na autorrestrição; alegrias do espírito que partilha sua leveza até mesmo com a carne. Feliz o homem cuja carne não lhe pesa sobre o espírito, mas repousa de leve sobre seu braço como uma companheira gentil.

Por isso é que há sabedoria em jejuar. A mente clara e o passo leve de alguém que não está super alimentado permitem-lhe ver seu caminho e atravessar a vida com uma alegria mais sábia. Há mesmo uma profunda conveniência natural em jejuar na primavera do ano.

Thomas Merton em "Tempo e Liturgia"

8.3.2020

Tópicos sobre meditação (3)

O assunto da meditação 

"Está claro que a escolha do assunto é de importância na meditação. E torna-se imediatamente evidente, desde que a meditação é uma forma íntima e pessoal de atividade espiritual, que a escolha deva ser pessoal. A maior parte das pessoas não consegue meditar bem num “tema” imposto por outro, sobretudo se é algo de abstrato.

O assunto normal da meditação, conforme a tradição ascética cristã, será algum mistério da fé. [...].

A finalidade da meditação é, portanto, em primeiro lugar, tornar-nos capazes de ver e experimentar os mistérios da vida de Cristo como fatores reais, presentes em nossa própria vida espiritual.

 

Para tornar essa experiência mais profunda e pessoal, procura a meditação penetrar debaixo da superfície exterior, no sentido íntimo, e, (o mais importante) relacionar os acontecimentos históricos narrados no Evangelho, com a nossa própria vida aqui e agora."

 

"A meditação deve ter um assunto definido, preciso. No início da vida de oração, quanto mais precisos e concretos formos na meditação, tanto mais êxito teremos. A disciplina que nos impomos para nos concentrarmos num assunto especial claro e nítido tende a unificar as faculdades, dispondo-as assim, remotamente, para a oração contemplativa."

Thomas Merton em "Direção espiritual e meditação"

1.3.2020

Tópicos sobre meditação (2)

O segredo do nosso destino 

"A primeira coisa que tenho de fazer, se quero ter vida de oração, é desenvolver uma forte resistência às atrações fúteis que a sociedade moderna exerce sobre meus cinco sentidos. Terei, portanto, de mortificar meus desejos.

Não falo aqui de práticas ascéticas extraordinárias, mas simplesmente da auto-renúncia requerida para viver segundo as normas da razão e do Evangelho. […].

Para fazer uma meditação séria e frutuosa, temos de iniciar nossa oração com o senso real da necessidade que temos dos frutos que dela provém. Não basta aplicar nosso espírito às coisas espirituais do mesmo modo que faríamos para observar um fenômeno natural ou um teste científico. Na oração mental, entramos num domínio do qual não somos os senhores, e nos propomos a consideração de verdades que excedem nossa compreensão natural e que contém, no entanto, o segredo de nosso destino. Procuramos, na oração mental, penetrar mais profundamente na vida de Deus. Mas Deus está infinitamente acima de nós, embora esteja em nós e seja o princípio de nosso ser. A graça da íntima união com Ele é, apesar de tudo, sempre um dom que Ele nos faz, ainda que a possamos obter pela oração e as boas obra"

Thomas Merton em "Direção espiritual e meditação".

23.2.2020

Tópicos de Meditação (1)

Como meditar

"A alma bem disciplinada, como o corpo bem disciplinado, é ágil, dócil e sabe se adaptar. A alma que não sabe se dobrar, ser flexível e livre, é incapaz de progredir no caminho da oração. Uma rigidez imprudente poderá, no início, parecer dar bons resultados, mas acabará paralisando a vida interior.

Há, entretanto, algumas exigências universais para o exercício sadio da oração mental. Não podem, de forma alguma, ser negligenciadas.

Para meditar, tenho de afastar meu pensamento de tudo que me impeça de estar atento a Deus presente em meu coração. Ora, isso é impossível se não recolho meus sentidos. Mas é praticamente inútil recolher-me no momento de oração se, durante o dia, permiti aos sentidos e à imaginação andarem soltos.

Consequentemente, o desejo de se entregar à meditação supõe o esforço de conservar um recolhimento moderado e atento durante o dia todo. Significa viver habitualmente numa atmosfera de fé, com momento ocasionais de oração e atenção a Deus. O mundo em que vivemos apresenta um problema atordoante a qualquer pessoa que deseje adquirir hábitos de recolhimento."

Thomas Merton em "Direção espiritual e meditação".

16.2.2020

"O homem está em meio à maior revolução que este mundo jamais viu. Esta revolução não é meramente política, mas científica, tecnológica, econômica, demográfica, cultural, espiritual. Afeta todos os aspectos da vida humana. Esta revolução, em seus aspectos mais amplos, é algo que não pode ser detido. A grande questão é saber se pode ser verdadeiramente dirigida a fins que sejam totalmente compatíveis com a dignidade e o destino autênticos do homem. A ciência por si só, a política por si só, a economia por si só não podem fazer isso. Muito menos pode a meta ser atingida pelo poder das armas nucleares, ou por bandos de guerrilhas de revolucionários sociais. É preciso que haja uma colaboração consciente e total de todos os recursos humanos de conhecimento, técnica e poder. Mas a única esperança de uma coordenação bem-sucedida repousa na percepção mais profunda e mais unificadora que já foi dada ao homem: a revelação cristã da unidade de todos os homens no amor de Deus como Seu Único Filho, Jesus Cristo."
 

Thomas Merton em "Amor e vida".

9.2.2020

Serenidade diante do caos

"Mantenha seus olhos puros, seus ouvidos silenciosos e sua mente serena. Respire o ar de Deus. Trabalhe, se possível, sob seu céu. Mas, se for obrigado a viver numa cidade, a trabalhar com máquinas, a andar de metrô, a comer em lugares onde o rádio o ensurdece espalhando notícias espúrias e a comida destrói-lhe a vida, onde os sentimentos dos que o rodeiam envenenam de tédio o seu coração, não seja impaciente: aceite tudo com amor de Deus e como uma semente de solidão plantada em sua alma."
 

Thomas Merton em "Novas sementes de contemplação".

2.2.2020

"A meditação é para os que não se satisfazem com um conhecimento meramente objetivo e conceitual em relação à vida, em relação a Deus – em relação a realidades de primeira importância. Querem entrar em contato íntimo com a própria verdade, com Deus. Querem experimentar as mais profundas realidades da vida, vivendo-a. (…) Não nos esqueçamos jamais de que o fecundo silêncio em que as palavras perdem seu poder de expansão, e os conceitos nos escapam, é, talvez, a mais perfeita meditação. (…) devemos regozijar-nos e repousar na noite luminosa da fé. Esse é um degrau mais alto de oração. A finalidade última da meditação deve ser uma comunhão mais íntima com Deus, não só no futuro, mas também aqui e agora."

 

Thomas Merton em "Direções Espirituais e Meditação".

26.1.2020

SOBRE OS PADRES DO DESERTO

 

Eles não almejavam a aprovação de seus contemporâneos, tampouco buscavam provocar qualquer reprovação porque as opiniões dos outros passaram a não ter mais importância. Não tinham nenhuma doutrina de liberdade estabelecida, mas de fato tornaram se livres pagando o preço da liberdade.

De qualquer maneira, depuravam para si uma sabedoria muito prática e despretensiosa, ao mesmo tempo atemporal e primitiva, e que nos permite reabrir as fontes que foram poluídas ou bloqueadas pela recusa mental e espiritual acumulada da nossa barbárie tecnológica. Nossa época necessita desesperadamente desse tipo de simplicidade.

Thomas Merton em "Sabedoria do deserto".

19.1.2020

UMA ORAÇÃO PELA PAZ

 

Escuta misericordioso esta prece que se ergue a Ti a partir do tumulto e do desespero de um mundo no qual Tu és esquecido, no qual Teu nome não é invocado, Tuas leis são escarnecidas e Tua presença é ignorada.

Porque não Te conhecemos, nós não temos paz.

Ajuda-nos a dominar as armas que ameaçam dominar a nós. Ajuda-nos a usar nossa ciência para a paz e para o bem-estar, não para a guerra e a destruição. Mostra-nos como usar o poder nuclear para abençoar os filhos de nossos filhos, não para prejudicá-los.

Clarifica nossas contradições interiores que agora crescem desmedidamente sem cessar. Elas são ao mesmo tempo uma benção e um tormento: pois se Tu não tivesses nos dado a luz da consciência, nós não conseguiríamos aguentá-las. Ensina-nos a longanimidade no temor e na insegurança. Ensina-nos a esperar e a confiar. Concede Luz, concede força e paciência para todos que trabalham pela paz.

Thomas Merton em "Diálogos com o silêncio".

12.1.2020

UM NOVO SER: CRISTO E EU!


"Habitando em nós, Cristo se torna, por assim dizer, nosso ser superior, pois uniu e identificou a si o que há de mais íntimo em nosso ser. Desde o instante em quem, pela fé e pela caridade, respondemos ao seu amor por nós, uma união sobrenatural de nossas almas com a Pessoa Divina de Cristo, que habita em nós, nos dá uma participação na sua filiação divina e na sua natureza. Um "novo ser" começa a existir. Torno-me um "novo homem", e esse novo homem, espiritual e misticamente uma só identidade, é, ao mesmo tempo, Cristo e eu. Os textos do Novo Testamento e a doutrina da Igreja explicam à inteligência de quem crê que essa união espiritual de meu ser com Cristo em um "novo homem" é obra do Espírito Santo, o Espírito de Amor, Espírito de Cristo."

Thomas Merton em "Novas Sementes de Contemplação".

5.1.2020

“Amar num nível mais alto”


"Quem ama a Deus mais que do que a si mesmo é capaz de também amar as pessoas e as coisas pelo bem que elas possuem em Deus. Equivale a dizer que ele ama a glória que as coisas rendem a Deus: porque essa glória é o reflexo de Deus na bondade, comunicada por Ele às criaturas. Tal homem é indiferente ao embate das coisas na sua própria vida. Ele só considera as coisas na sua relação à glória de Deus e à Sua vontade. Por maior que seja a sua utilidade e satisfação temporal, ele fica indiferente. Mas, quanto ao valor das coisas em si mesmas, ele não é mais indiferente do que em relação a Deus. Ama-as no mesmo ato em que ama a Deus. Isto é, ama no mesmo ato pelo qual renunciou a elas. E nesse amor que se afirma pela renúncia, ele as recupera num nível mais alto"

Thomas Merton em "Homem Algum é uma Ilha".

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