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Pensamentos semanais - 2018

30.12.2018

"Deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus"

Deus na terra, Deus entre os homens! Desta vez, Ele não promulga a sua Lei no meio dos relâmpagos, ao som da trombeta, numa montanha fumegante, na obscuridade de uma tempestade aterradora (Ex 19,16s), mas recria-Se, de forma mansa e pacífica, num corpo humano, com os seus irmãos de raça. Deus encarnado ! [...] Como pode a divindade viver na carne? Como o fogo subsiste no ferro, não deixando o local onde arde, mas comunicando-se-lhe. Com efeito, o fogo não se lança sobre o ferro mas, permanecendo no seu local, comunica-lhe o seu poder. Ao fazê-lo, não fica minimamente diminuído, mas preenche plenamente o ferro ao qual se comunica. Da mesma forma, Deus, o Verbo que vive entre nós, não saiu de Si mesmo: o Verbo que Se fez carne não foi submetido à mudança; o Céu não foi despojado daquele que contém, e no entanto a Terra acolhe no seu seio Aquele que está no Céu.

 

Apreende este mistério: Deus está na carne de forma a destruir a morte que nela se esconde. [...] Quando se «manifestou a graça de Deus, portadora de salvação para todos os homens» (Tt 2,11), quando «brilhou o sol de justiça» (Mal 3,20), «a morte foi tragada pela vitória» (1Cor 15,54), porque não podia coexistir com a verdadeira vida. Ó profundidade da bondade de Deus e do amor de Deus pelos homens! Demos glória com os pastores, dancemos com os coros dos anjos, porque «hoje nasceu o Salvador que é o Messias Senhor» (Lc 2,11-12).

 

«O Senhor é Deus; Ele tem-nos iluminado» (Sl 118,27), não sob a sua aparência de Deus, para não assustar a nossa fraqueza, mas sob a forma de um servo, a fim de conferir a liberdade àqueles que estavam condenados à servidão. Só quem tiver o coração adormecido e indiferente não exultará de alegria, não irradiará felicidade, perante este acontecimento. É uma festa comum a toda a Criação. Todos devem contribuir para ela, ninguém se deve mostrar ingrato. Elevemos nós também a voz para cantar o nosso júbilo!

São Basílio (c. 330-379), monge, bispo de Cesareia da Capadócia.

23.12.2018

"O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas" (Lc 1,48)

 

Quando toca um coração, é típico do Espírito Santo afastar dele toda a tibieza. Ele ama a prontidão, é inimigo dos adiamentos, dos atrasos na execução da vontade de Deus [...]: «Maria [...] dirigiu-se apressadamente» [...].

 

Que graças não se terão derramado sobre a casa de Zacarias quando Maria ali entrou! Se Abraão recebeu tantas graças por ter albergado três anjos em sua casa, que bênçãos não se terão derramado sobre a casa de Zacarias, onde entrou o Anjo do Grande Conselho (Is 9,6), a verdadeira Arca da Aliança, o divino profeta, Nosso Senhor, escondido no seio de Maria! Toda a casa ficou repleta de alegria: o menino estremeceu, o pai recuperou a fala, a mãe ficou cheia do Espírito Santo e recebeu o dom da profecia. Vendo Nossa Senhora entrar em sua casa, ela exclamou: «Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?» [...] E Maria, ouvindo o que sua prima dizia em seu louvor, humilhou-se e rendeu glória a Deus de todo o coração. Confessando que toda a sua felicidade procedia desse Deus que tinha posto «os olhos na humildade da sua serva», entoou o belo e admirável cântico do seu Magnificat.

 

Também nós devemos estar transbordantes de alegria quando o divino Salvador nos visita, no Santíssimo Sacramento ou através de graças interiores, das palavras que, dia a dia, nos diz no coração!

São Francisco de Sales (1567-1622)

Abrindo-Caminhos-Parabolas-e-Reflexoes-D

Vale a pena ser lido!

16.12.2018

A rosa e os espinhos

Um certo homem plantou uma rosa e passou a regá-la contentemente e, antes que desabrochasse, ele a examinou.

 

Ele viu o botão que em breve desabrocharia, mas notou espinhos sobre o talo e pensou: "Como pode uma bela flor como esta vir de uma planta rodeada de espinhos tão afiados?".

Entristecido por esse pensamento, ele se recusou a regar a rosa, e antes que estivesse pronta para desabrochar, ela morreu.

Assim acontece com muitas pessoas.

Dentro de cada alma há uma rosa: as qualidades dadas por Deus e plantadas em nós crescem em meio aos espinhos de nossas faltas.

Muitos de nós olhamos e vemos apenas os espinhos, os defeitos.

Desesperamo-nos, achando que nada de bom pode vir de nosso interior. Recusamo-nos a regar o bem dentro de nós e, consequentemente, ele morre.

Não percebemos nosso potencial.

Um dos maiores dons que uma pessoa pode possuir ou compartilhar é o de ser capaz de passar pelos espinhos e encontrar a rosa dentro de outras pessoas.

Essa é a característica do amor: olhar para uma pessoa e conhecer suas verdadeiras faltas.

Aceitar aquela pessoa em sua vida enquanto reconhece a beleza em sua alma e a ajuda a perceber que pode superar suas aparentes imperfeições.

Se nós mostrarmos a essas pessoas a rosa, elas superarão seus próprios espinhos.

Só assim elas poderão desabrochar muitas e muitas vezes.

Dom Itamar Vian e Frei Aldo Colombo em "Abrindo Caminhos".

9.12.2018

Como é que eu posso conhecer-me? Não pelo pensamento, pois este só reflete meu consciente, mas pela meditação. A meditação vai além do consciente e penetra o inconsciente. Nela eu me torno cônscio do substrato de meu ser na matéria, na vida, na consciência humana. Posso experimentar minha solidariedade com o universo, com a estrela mais remota do espaço exterior e com as partículas mais ínfimas do átomo. Posso experimentar a união com todas as coisas vivas, com a terra, com estas flores e coqueiros, com os pássaros e esquilos, com todos os seres humanos. Posso ainda ir além de todas as formas externas das coisas no tempo e espaço, e descobrir o Substrato de onde provém. Posso conhecer o Pai, a Fonte e Origem, além do ser e não-ser, o Uno “sem segundo” da filosofia indiana.

Bede Griffiths, Monge Beneditino.

(grande mestre da inter-espiritualidade e do diálogo inter-religioso)

2.12.2018

Ato de fé.

Retornar à Fonte

O que é adorar a Deus? Sabemos, na verdade, por experiência, ou podemos apenas dar uma resposta pela memória do que aprendemos? Adorar a Deus é colocar-se em sua presença. No final, a adoração é um gesto de atenção a Deus.

Reconhecemos que Deus, o Criador, está presente, que nos ama, que realmente cria nossa alma e, assim, colocamo-nos diante dEle, em suas mãos. Porém, só podemos estar na presença de Deus pela adoração. Adorar é retornar à fonte.

Livre tradução do texto apresentado pelo site da Fraternidade Monástica Virtual

 

(Extracto del libro “Seguir al Cordero” I. Retiro sobre el evangelio de San Juan, de Marie-Dominique Philippe. Ed. Palabra, colección Fuente Viva. Pag 12 a 16.)

 

<https://lahesiquia.wordpress.com/2018/10/24/remontar-a-la-fuente/>

25.11.2018

Ato de fé.

O chamado ao amor requer uma resposta peculiar de amor de nossa parte, que começa com a realização de um profundo ato de fé que nos permite aceitar o amor que Deus nos oferece; porque se trata de um amor tão inimaginável que não pode ser reconhecido ou aceito com nossos recursos habituais, já que quebra todos os nossos esquemas mentais ou psicológicos; e, além disso, porque essa aceitação é demonstrada por uma vida singular e apenas uma fé profunda e viva pode nos permitir viver de acordo com esse amor, sem desconfiança ou reservas.

Vida contemplativa. (FCB de Getsemaní Contemplativos)

Publicado no site da Fraternidade Monástica Virtual <https://lahesiquia.wordpress.com/2018/11/05/acto-de-fe/>

18.11.2018

Ser servo.

O bispo que vos dirige é vosso servo. [...] Que o Senhor nos conceda, portanto, com a ajuda das vossas preces, ser e permanecer até ao fim o que quiserdes que sejamos [...]; que Ele nos ajude a cumprir o que nos ordenou. Mas, seja quem for que sejamos, não coloqueis em nós a vossa esperança. Permito-me dizer-vos isto como bispo: quero alegrar-me convosco e não ficar inflamado de orgulho. [...] Falo agora ao povo de Deus em nome de Cristo, falo na Igreja de Deus, falo como pobre servo de Deus: não coloqueis a vossa esperança em nós, não ponhais a vossa esperança nos homens. Somos bons? Somos servos. Somos maus? Continuamos a ser servos. Mas os bons, os servos fiéis, são os verdadeiros servos.

Qual é o nosso serviço? Prestai atenção: se tendes fome e não quereis ser ingratos, reparai de que celeiro tiramos as provisões; mas não és tu que tens de decidir em que travessa te é servido aquilo que estás ávido de comer: «Numa casa grande não existem somente vasos de ouro e prata, também os há de madeira e de barro» (2Tm 2,20). [O teu bispo parece-se com] uma travessa de prata, uma travessa de ouro, ou uma travessa de argila? Vê se nessa travessa há pão e quem to deu para que te fosse servido, pois Ele é que é o pão: «Eu sou o pão vivo, o que desceu do Céu» (Jo 6,51). Nós, portanto, servimo-vos Cristo, em lugar de Cristo [...], para que Ele chegue até vós, para que Ele seja o juiz do nosso ministério.

Santo Agostinho (354-430) bispo de Hipona.

Publicado no site <https://www.evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2018-11-13>

11.11.2018

"Ofereceu tudo o que tinha"

No reino dos Céus, todos os homens em conjunto, como se fossem um só, serão um só rei com Deus, pois todos quererão uma só coisa e a sua vontade cumprir-se-á. Eis o bem que, do alto do Céu, Deus declara pôr à venda.

Se alguém perguntar por que preço, eis a resposta: aquele que oferece um reino no Céu não precisa de moeda terrena. Ninguém pode dar a Deus o que já Lhe pertence, porque tudo o que existe é d'Ele. E, no entanto, Deus não dá coisas importantes sem que o preço correspondente seja estimado: Ele não as dará a quem não as apreciar. De facto, ninguém dá coisas que lhe são queridas a quem não demonstrar ter apreço por elas. Assim, e porque Deus não precisa dos teus bens, não te dará coisa alguma de relevo se desdenhares amá-l'O: Ele apenas reclama amor, e sem amor nada O obrigará a dar. Por isso, ama, e receberás o reino. Ama, e possui-l'O-ás [...]. Ama a Deus mais do que a ti mesmo, e começarás a ter o que queres possuir em plenitude no Céu.

Santo Anselmo (1033-1109), monge, bispo e doutor da Igreja Romana

4.11.2018

A comunhão dos santos

A Irmã Maria da Eucaristia queria acender as velas para uma procissão e, como não tinha fósforos, vendo a lamparina que arde diante das relíquias, dela se aproxima mas oh!, encontra-a quase apagada, não lhe restando senão uma pálida luzinha no pavio carbonizado. Apesar disso, consegue acender a sua vela e, a partir dela, as da comunidade toda, que, daí a pouco, tinha todas as velas acesas. Foi, pois, esta pequena lamparina, quase extinta, que produziu outras chamas seguras, as quais, por sua vez, puderam produzir uma infinidade doutras e, até, incendiar o universo. No entanto, se quiséssemos determinar a origem desse incêndio, seria preciso reportar-nos sempre àquela minúscula lamparina. Como poderiam então as outras chamas, sabendo disso, gloriar-se de ter causado tamanho incêndio, uma vez que apenas foram acesas por contágio da pequena centelha? [...]

O mesmo se passa com a comunhão dos santos. Sem o sabermos, muitas vezes as graças e as luzes que recebemos ficam a dever-se a uma alma escondida, porque o Deus de bondade quer que os santos comuniquem uns aos outros a graça através da oração, para poderem depois dedicar uns aos outros um grande amor no Céu, um amor muito maior do que o de qualquer família da Terra, mesmo a mais perfeita. Quantas vezes pensei que todas as graças que recebi se ficaram a dever à oração que uma qualquer boa alma tenha feito por mim ao Deus de amor, e que só no Céu conhecerei. Sim, uma pequena centelha basta para fazer nascer grandes clarões em toda a Igreja, como doutores e mártires, que ocuparão no Céu um lugar bem acima do dela; mas nem por isso se pode concluir que a glória deles não será também a dela, porque no Céu não haverá olhares indiferentes; todos reconhecerão que se devem mutuamente as graças que lhes mereceram essa coroa de glória.

Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897)

28.10.2018

"Que hei de fazer?"

Todos nós desejamos ser felizes e ter paz. Fomos criados para isso e só podemos encontrar a felicidade e a paz amando a Deus; o amor traz-nos a alegria e a felicidade. Muitas pessoas pensam, sobretudo no Ocidente, que viver fazendo o que lhes apetece as torna felizes. Eu penso que é mais difícil ser feliz na riqueza, porque as preocupações para ganhar dinheiro e o conservar nos escondem Deus. De qualquer modo, se Deus vos confiou riquezas, usai-as para servir as suas obras: ajudai os outros, ajudai os pobres, criai empregos, dai trabalho aos outros. Não desperdiceis em vão a vossa fortuna; ter uma casa, honras, liberdade, saúde, tudo isso nos é confiado por Deus para o pormos ao serviço dos que são menos afortunados do que nós.

Jesus disse: «o que fizerdes ao mais pequenino dos meus irmãos, é a Mim que o fazeis» (Mt 25,40). Por consequência, a única coisa que pode entristecer-me é ofender Nosso Senhor por egoísmo ou por falta de caridade para com os outros, ou fazer mal a alguém. Ferindo os pobres, ferindo-nos uns aos outros, ferimos a Deus.

É a Deus que pertence dar e retirar (Job 1,21); partilhai pois o que recebestes, incluindo a vossa própria vida.

Santa Teresa de Calcutá (1910-1997)

21.10.2018

 "O Espírito Santo vos ensinará naquela hora o que haveis de dizer."

 

No momento em que Policarpo entrou no estádio, uma voz ressoou no céu: «Coragem Policarpo, sê forte.» Ninguém viu quem falava, mas os nossos que estavam presentes ouviram a voz. [...] Quando a multidão soube quem era este prisioneiro, os gritos duplicaram. O procônsul perguntou-lhe se ele era Policarpo. «Sim,» respondeu. O outro tentou arrancar-lhe uma renúncia à sua religião: «Respeita a tua idade avançada. [...] Jura pela fortuna de César, renega. [...] Diz mal de Cristo.» Policarpo respondeu: «Há oitenta e seis anos que O sirvo e Ele nunca me fez mal. Como poderia rejeitar o meu Rei e meu Salvador?»

Como o outro insistisse [...], Policarpo continuou: «Já que insistes em que eu jure pela fortuna de César, como dizes, e que finges ignorar quem sou, ouve claramente: sou cristão. E se quiseres conhecer a justeza da minha religião, dá-me um dia e escuta-me.» «Persuade a multidão», replicou o procônsul. «Penso que posso discutir contigo pois ambos aprendemos a ter pelas autoridades e pelos magistrados estabelecidos por Deus o respeito que lhes é devido, na condição de que este não se vire contra nós. Mas estas pessoas não possuem dignidade suficiente para que me explique perante elas.»

«Tenho as feras à minha disposição», continuou o procônsul, «e vou lançar-tas se não abjurares.» «Chama-as», respondeu Policarpo. «Desprezas os animais? Obstinas-te? Lanço-te às chamas.» Policarpo respondeu: «Ameaças-me com um fogo que arde durante uma hora e se apaga, porque não conheces o fogo do juízo futuro e do castigo eterno que espera os ímpios. Mas porque esperas? Faz como achares melhor.»

Os acontecimentos precipitaram-se; foi uma corrida às marcenarias e aos banhos, de onde as pessoas trouxeram madeira e ramos. [...] Quando a fogueira ficou pronta, foi o próprio Policarpo que se despiu e desatou o cinto. Quis também ser ele a desapertar as sandálias, coisa que habitualmente não fazia porque os fiéis o ajudavam. [...] Este grande santo havia suscitado, muito antes do seu martírio, uma imensa veneração.

Carta da Igreja de Esmirna sobre o martírio de São Policarpo (69-155)

 

<https://evangelhoquotidiano.org/PT/gospel/2018-10-20>

14.10.2018

A confiança filial

A consideração que faz das suas faltas é inteiramente verdadeira: as faltas que têm origem na nossa fragilidade, e que são realmente detestadas, não impedem que Deus nos ame. Pelo contrário, suscitam a sua compaixão: «Como um pai se compadece dos filhos, assim o Senhor Se compadece dos que O temem, [...] Ele não Se esquece de que somos pó da terra» (Sl 102,13.14).

A grande devoção de São Paulo consistia em que se apresentar diante do Pai celeste com todas as suas enfermidades; e, como se considerou sempre um membro de Cristo, tais enfermidades eram as do próprio Cristo: «Prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo» (2Cor 12,9). Esforce-se portanto por se encher deste espírito de confiança de menino para com Deus.

Parece-me que, quanto mais intimamente unido me encontro ao nosso divino Senhor, mais Ele me atrai a seu Pai - e mais me quer encher do seu espírito filial. É este o espírito da Nova Lei: «Vós não recebestes um Espírito que vos escravize e volte a encher-vos de medo; mas recebestes um Espírito que faz de vós filhos adotivos. É por Ele que clamamos: "Abbá, ó Pai!"» (Rom 8,15)

Beato Columba Marmion (1858-1923) - Abade
(A união a Deus em Cristo nas cartas de direção espiritual de Dom Marmion)

 

Texto extraído do site www.evangelhoquotidiano.org, (10.10.18)

7.10.2018

A Oração de São Francisco de Assis*

Senhor, fazei de mim um instrumento da Vossa paz.

Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida eterna.

(É esquecendo de mim que eu me encontro)**

São Francisco não é o verdadeiro autor desta oração, mas a ele foi atribuída por transmitir, com perfeição, sua alma. Assim, muito mais que um simples texto, esta oração é um tributo ao testemunho dado por São Francisco com sua vida!

** Verso presente no texto original, mas perdido com o passar do tempo.

30.9.2018

Em tudo

Malvi Baldellou

Em tudo.
Nas minhas rotinas.
Nas minhas fadigas.
No meu amado povo.
Nas minhas cargas.

Ao sentir-me o mais importante.

Nas minhas elevações de voz sem sentido.

Nas minhas lutas cotidianas.
No meu consolo mais profundo.

Na minha busca por aprovação constante.

No meu medo congelante.

Nas minhas buscas por aplausos.

Nas minhas risadas e nos meus sonhos.

Na minha vontade de ficar bem a qualquer preço.

No meio disso tudo, em mim, no meio de tudo e de todos:

  faça-me procurar por Ti, faça-me te encontrar.

Em tudo, Tu estás para me abraçar.

Tradução livre de <https://lahesiquia.wordpress.com/2018/09/26/en-medio/>

23.9.2018

Entrar no silêncio de Deus

Jean Vannier

Orar é entrar devagar, pacificamente, no silêncio de Deus.

É deixar Deus dar-se a si mesmo, bem como o seu silêncio, para que ele possa deixar meu coração bater em uníssono com o dele.

É deixar minha respiração unir-se à respiração de Deus.

É deixar-me penetrar pela Sua presença.

É perceber, cada vez mais, que Deus está dentro de mim.

Não, obviamente, para evitar meus irmãos, ao contrário, é para traze-los para mais perto, pois é verdadeiramente impossível abordar o crucificado sem se aproximar do crucificado de todo o mundo.
 

Tradução livre de <https://lahesiquia.wordpress.com/ 2018/09/18/entrar-en-el-silencio-de-dios/>

15.9.2018

 "Fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca"

 

Santa Teresa de Calcutá

Pode acontecer que no apartamento ou na casa ao lado da tua viva um cego, que muito agradeceria que fosses visitá-lo e lhe lesses o jornal. Pode acontecer que haja uma família que tenha necessidade de alguma coisa, uma coisa que seja a teus olhos de pouca importância, uma coisa tão simples como tomares conta de um bebé durante meia hora. Há tantas coisas pequenas, que são tão pequenas, que muitos se esquecem delas.

Não penses que só os pobres de espírito podem trabalhar na cozinha. Não penses que levantares-te, sentares-te, ires e vires, que tudo quanto fazes é desprovido de importância aos olhos de Deus.

Deus não te perguntará quantos livros leste, quantos milagres fizeste. Há de perguntar-te se fizeste o melhor que sabias, por amor a Ele. Podes dizer, com toda a sinceridade: «Fiz o melhor que sabia»? Mesmo que esse melhor seja um fracasso, tem de ser o melhor que sabemos. Se estás realmente apaixonado por Cristo, por muito modesta que seja uma tarefa, hás de realizá-la o melhor que souberes, e com todo o coração. O teu trabalho será um testemunho do teu amor. Podes esgotar-te a trabalhar, podes mesmo matar-te a trabalhar, mas se não o fizeres por amor, esse trabalho será inútil.

9.9.2018

 Os perigos da meditação

 

Giridhari Das (Gustavo Dauster)

Meditação é tudo de bom, mas há também perigos. Por melhor que algo seja na vida, sempre há riscos. Vamos ver aqui os possíveis riscos da meditação para evitá-los e ter uma prática saudável.

Você certamente deve meditar. Milhares e milhares de pesquisas comprovam sua eficácia e efeito positivo na vida. Praticantes compartilham seus efeitos maravilhosos há milênios.

Mas é importante fica ciente de possíveis problemas que podem surgir na prática de meditação, especialmente quando é feita de maneira errada, ou fora de um contexto maior de compreensão e evolução da consciência. (...)

________________________________________

 

Você está convidado a ler o texto na íntegra e assistir o vídeo nele anexado, para melhor compreensão da mensagem do autor.

2.9.2018

 Tu tens palavras de vida eterna

Sê paciente e persevera na prática da meditação. A princípio, contenta-te com avançar em pequenos passos. Mais tarde, terás pernas que te pedirão que corras, ou melhor, asas para voar.

Contenta-te com obedecer. Nunca é fácil, mas foi a Deus que escolhemos como nosso quinhão. Aceita não seres mais do que uma abelhinha no cortiço; cedo ela se tornará uma dessas grandes obreiras hábeis na fabricação do mel. Permanece sempre humilde diante de Deus e diante dos homens, no amor. Então o Senhor falar-te-á em verdade e enriquecer-te-á com os seus dons.

Acontece às abelhas atravessarem grandes distâncias nos prados antes de chegarem às flores que escolheram; em seguida, fatigadas mas satisfeitas e carregadas de pólen, regressam à colmeia para aí realizarem a transformação silenciosa, mas fecunda, do néctar das flores em néctar da vida. Faz tu também assim: depois de teres escutado a Palavra, medita-a atentamente, examina os seus diferentes elementos, procura a sua significação profunda. Então, ela tornar-se-á clara e luminosa; ela terá o poder de transformar as tuas inclinações naturais em pura elevação do espírito; e o teu coração estará sempre mais intimamente unido ao coração de Cristo.

São (Padre) Pio de Pietrelcina (1887-1968)

26.8.2018

 Etapas da vida de oração:

da necessidade ao desejo; do desejo ao silêncio

        
A oração não é um momento, tampouco uma atividade, mas um estado de comunhão. Toda comunhão supõe um "eu" e um "você". Agora, quanto mais mergulhamos em nosso "eu", mais entramos no "Você" de Deus, até nos tornarmos Um. Podemos distinguir três estágios da vida de oração:

Na necessidade, o centro de gravidade é o meu eu, minhas exigências, minhas maneiras limitadas de ver e interpretar as presenças e ausências de Deus ...

No desejo, o centro começa a se mover em direção ao Você de Deus, e eu estou mais atento ao que me é dito do que ao que eu quero dizer. Para perceber as nuances deste deslocamento, a distinção que Teresa de Jesus fez entre contentamentos na oração e gostos é ilustrativa. "Parece-me que podemos chamar de contentamento o que adquirimos com a nossa meditação e nossas súplicas ao nosso Senhor, eles procedem de nossa natureza" (Quartas Moradas, 1,4). Ou seja, trata-se de uma satisfação que se refere a si mesmo. "Eles partem de nossa própria natureza, embora terminem em Deus" (ibid.). Os "gostos", no entanto, são um dom de Deus e não podem ser provocado: "Todo nosso interior se expande e se agiganta, não sendo possível se expressar todo o bem que dele resultado" (4M 2.6). O eu é despido mais e mais de si mesmo para alcançar a outra margem: o silêncio.

No silêncio, não há mais "eu" ou "você", mas uma comunhão que vai além do simples "nós". Também não se trata de uma fusão, se por "fusão" entendemos "dissolução" da própria identidade, é participação na comunhão trinitária, na qual ocorre a união das Pessoas sem fusão. Como diz Henri Le Saux, "nunca chegaremos verdadeiramente a Deus com um pensamento objetivo, mas no fundo da experiência purificada do meu próprio 'eu', que é a participação do único Eu divino. Para ser totalmente verdade, o 'Você' de minha oração tem de se fundir com o 'você' que desde sempre o Filho diz ao Pai, naquele Eu-Tu indivisível do Unitrinidad"(21).

Anthony de Mello tem uma maneira ainda mais sensível de falar sobre esses diferentes estágios da oração:

                "Primeiro eu falo, você escuta;

       Então você fala, eu ouço;

       mais adiante, nós não falamos nenhum de nós,

       nós dois ouvimos; No final, nem fala nem ouve:

       Há apenas o SILÊNCIO"(22).

 

Além da oração feita em tempos e espaços específicos, há outra oração que acreditamos ser muito propícia para alcançar o monasticismo internalizado do qual falamos. É a oração do coração, também chamada de oração contínua.

La llamada a la oración continua. (Livre tradução)

(https://lahesiquia.wordpress.com/2012/08/25/la-llamada-a-la-oracion-continua/)

19.8.2018

Alguns conselhos sobre a oração (II)

Não se complique com rituais, conversas ou leituras excessivas. Orar é muito simples, você não precisa ler todos os livros sobre o assunto. É sobre orar, não sobre ler a respeito. Vale mais um minuto de presença no Sagrado do que um ano de leituras sobre a oração.

 

O tempo de oração é um período de tranquilidade em sua vida. Nunca tenha pressa. Aceleração, ansiedade, complicação e dispersão são os maiores inimigos do espírito. Mantenha-os afastados a todo custo. Nunca se deixe levar por eles. Permaneça o tempo que for necessário até você reconhecer a presença do sagrado. Isso pode levar de alguns minutos a horas. Seja paciente e espere.

 

Evite fazê-lo mecanicamente; não faça isso por obrigação, mas por devoção. Isso coloca você em uma atitude e em uma atmosfera totalmente diferentes.

 

O pensamento racional pode se tornar um grande inimigo do espírito. Não pense, raciocine ou elucubre sobre o que você faz. Apenas faça; simplesmente reze. Entre nessa atmosfera, não pense a respeito. O pensamento não entende esses estados e antes, durante ou depois da oração, colocará todos os tipos de impedimentos e raciocínios, fazendo com que você fique totalmente absorto. O pensamento usará todos os tipos de argumentos, convincentes e engenhosos. Não acolha o pensamento! Seja o que for que a mente diga, continue com sua prática de oração.

 

Tenha em mente que isso acontecerá mesmo depois de muitos anos de prática e de ter frequentado os chamados “lugares do Espírito”. Muitos são os testemunhos de pessoas de oração e de vida interior que confirmam isso. A mente pensante, super desenvolvida nas pessoas atuais, não pode abraçar certas habitações e resiste com toda sua força colocando barreiras a serem superadas com perseverança e inspiração.

 

Acenda uma vela em frente ao Oratório e sente-se no chão, com as pernas cruzadas, sobre os calcanhares ou num banco, o que preferir. Você pode permanecer assim por alguns minutos ... até o dia todo. Não há limite para a adoração. Lembre-se do conselho evangélico de “permanecer em constante oração”

Pequeno Tratado de Meditação. (Livre tradução)

(https://lahesiquia.wordpress.com/2018/08/04/pequeno-tratado-de-meditacion/)

12.8.2018

Alguns conselhos sobre a oração (I)

A oração não é uma questão de pedir coisas Àquele que sabe tudo. A oração não é dizer a Deus o que você quer, mas ouvir o que Ele quer para você e isso não é nada mais do que compartilhar o que Ele é: tranquilidade profunda, Felicidade, Paz, Bondade, Beleza, Amor ...

Não se trata de pedir coisas, mas de compreender que você não precisa de nada além da presença de Deus e de descansar nessa morada repleta de suas qualidades.

Antes de orar, você deve entender que por trás de todos os seus desejos materiais ou de situações do mundo, há apenas um desejo: a paz profunda. E esse principal desejo que tanto você anseia e projeta nos objetos e situações do mundo, só pode obtê-lo na interioridade. Tranquilidade e plenitude são apenas em seu espírito que é o espírito de Deus.

Uma pessoa começa, de fato, a orar quando compreende claramente a futilidade e a relatividade de todos os objetivos humanos convencionais que, tendo sua importância relativa, não podem dar-lhe a paz profunda, a plenitude que todo ser humano anseia com nostalgia. Isto é claramente compreendido, seja pela própria inteligência, ou pelas constantes dificuldades da vida, ao se aproxima da Paz, da Beleza, da Bondade, da Plenitude e da Alegria decorrentes do contato com o Absoluto e com o Sagrado por meio da oração, em sua qualidade mais contemplativa.

Submergir-se no “ato orante” é o sinal mais claro de que foi alcançado o discernimento (entre o verdadeiro e o falso), o desapego (das coisas do mundo), a submissão (na presença de Deus), a humildade (com respeito a nossa capacidade humana), a sabedoria (tendo entendido onde estão a satisfação e a alegria verdadeiras), a caridade (abraçando toda a criação em nossa oração), e todas as outras virtudes... Todas as virtudes estão contidas na oração.

Orar é um simples ato de se colocar na presença do Sagrado.

Pequeno Tratado de Meditação. (Livre tradução)

(https://lahesiquia.wordpress.com/2018/08/04/pequeno-tratado-de-meditacion/)

A pérola de grande valor

De entre os dons espirituais recebidos da generosidade de Deus, Francisco (de Assis) obteve em particular o de enriquecer constantemente o seu tesouro de simplicidade graças ao seu amor pela extrema pobreza. Vendo que aquela que tinha sido a companheira habitual do Filho de Deus se tornara, nessa altura, objeto de aversão universal, tomou a peito desposá-la e devotou-lhe um amor eterno. Não satisfeito em deixar por ela pai e mãe (cf Gn 2,24), distribuiu pelos pobres tudo o que tinha (cf Mt 19,21). Nunca ninguém guardou tão ciosamente o seu dinheiro como Francisco guardou a sua pobreza; nunca ninguém vigiou o seu tesouro com maior cuidado que o que ele colocou em guardar esta pérola de que fala o Evangelho.

 

Nada o magoava mais do que encontrar nos seus irmãos algo que não fosse perfeitamente conforme à pobreza dos religiosos. Pessoalmente, desde o princípio da sua vida como religioso até à morte, não teve senão uma túnica, uma corda a servir de cinto e umas bragas como riqueza; não precisava de mais nada. Acontecia-lhe muitas vezes chorar ao pensar na pobreza de Cristo Jesus e na de sua Mãe; e dizia: "Aqui está a razão pela qual a pobreza é a rainha das virtudes: pelo esplendor com que brilhou no 'Rei dos reis' (1Tim 6,15) e na Rainha sua Mãe".

 

Quando os irmãos lhe perguntaram um dia qual era a virtude que nos torna mais amigos de Cristo, ele respondeu abrindo-lhes, por assim dizer, o segredo do seu coração: "Sabei, irmãos, que a pobreza espiritual é o caminho privilegiado para a salvação, visto que é a seiva da humildade e a raiz da perfeição; os seus frutos são incontáveis, embora ocultos. Ela é esse tesouro escondido num campo do qual nos fala o Evangelho, pelo qual é necessário vender tudo o resto e cujo valor deve impelir-nos a desprezar todas as outras coisas".

São Boaventura (1221-1274), franciscano.

5.8.2018

29.7.2018

"Sem mim, nada podeis fazer"

Que ninguém alimente a ilusão de pensar distinguir-se nas coisas grandes, se de antemão não se distinguir nas coisas simples. Crede que há muitas espécies de fervor, ou melhor, de tentações. [...] Alguns, para não terem de renunciar à própria vontade levando a cabo o que lhes dita a obediência, almejam fazer coisas mais importantes sem reparar que, se não possuem a virtude das pequenas coisas, ainda menos possuirão a das grandes. Com efeito, ao lançarem-se em coisas insignes e difíceis com fraco espírito de abnegação e grandeza de alma, confundem o zelo com a tentação, por já não terem forças que cheguem. [...]

 

Digo-vos tudo isto não para que afasteis o vosso coração de empreendimentos árduos, que vos darão azo a que vos distingais como grandes servos de Deus e assim possais ser relembrados pelos vossos sucessores, mas apenas para que, nas pequenas coisas, vos mostreis grandes, progredindo no conhecimento das tentações e do vosso próprio valor, e desse modo coloqueis todo o vosso ânimo em Deus. Se assim perseverardes, não duvido de que crescereis continuamente em humildade e vida interior, e dareis muito fruto noutras almas, vivendo em paz e segurança onde quer que vos encontreis.

São Francisco Xavier (1506-1552), missionário jesuíta.

22.7.2018

"Escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos"

A simplicidade é tão agradável a Deus! Sabeis que a Escritura diz que a sua alegria é estar com os simples de coração, os que vivem de boa fé e com simplicidade: «Ele reserva a sua intimidade para os justos» (Pr 3,32). Quereis encontrar a Deus? Falai com os simples. Ó meu Salvador! Ó meus irmãos que sentis o desejo de ser simples, que felicidade! Que felicidade! Coragem, uma vez que tendes a promessa de que a alegria de Deus é estar com os simples.

Outra coisa que nos recomenda maravilhosamente a simplicidade são estas palavras do nosso Senhor: «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos». Reconheço, meu Pai, e por isso Vos agradeço, que a doutrina que aprendi com vossa divina majestade e que difundo entre os homens é conhecida apenas dos simples, e que permitis que os entendidos do mundo não a entendam; a eles a escondestes, se não em palavras, pelo menos no espírito.

Ó Salvador! Ó meu Deus! Isto deve amedrontar-nos. Corremos atrás da ciência como se dela dependesse a nossa felicidade. Mal de nós se a não temos! É necessário tê-la, mas apenas a essencial; é preciso estudar, mas sobriamente. Há quem simule ter conhecimentos, fazendo-se passar por pessoa de posição e de condição. A esses, aos sábios e entendidos do mundo, Deus tira o entendimento das verdades cristãs. A quem o dá então? Às gentes do povo, às pessoas de bem. [...] Senhores, a verdadeira religião está entre os pobres. Deus enche-os de uma fé viva; eles creem, alcançam, experimentam as palavras de vida. [...] Normalmente, conservam a paz no meio das preocupações e dos sofrimentos. Porquê? Devido à sua fé. Porquê? Porque são simples, Deus fez abundar neles as graças que recusa aos ricos e sábios do mundo.

São Vicente de Paulo (1581-1660), presbítero, em Conversas espirituais, conferência de 21/03/1659.

15.7.2018

O chamado, caminho de liberdade

Em sua carta aos Gálatas, São Paulo afirma: "Irmãos, vocês foram chamados à liberdade" (Gl 5:13). Deus nos chama para a liberdade. Nós não obtemos essa liberdade instantânea e plenamente; ela é construída progressivamente e com paciência, dia após dia, e é adquirida precisamente por meio da fidelidade na resposta aos chamados que Deus nos faz perceber. Estes têm a característica de nos abrir para uma área de liberdade e nos permitir escapar dos diferentes tipos de confinamento em cuja armadilha podemos facilmente cair. (...)

Por orgulho, o homem se recusa a receber a vida e a felicidade do Pai em meio à dependência confiante e amorosa. Ele finge ser sua própria fonte de vida. Como resultado, há muitas suspeitas, medos e ansiedades, bem como uma exacerbação de concupiscência. Por não esperar que Deus é a felicidade pela qual aspira, e querendo obtê-lo por si mesmo, o homem pecador tende a aproveitar, avidamente, um conjunto de bens considerados capazes de banhá-lo: riqueza, prazer, reconhecimento, etc. (...)

A abertura aos apelos de Deus liberta-nos do orgulho: faz-nos passar de uma atitude de auto-suficiência, do pretexto de ser o único dono da nossa vida, de uma atitude de dependência do Outro, de disponibilidade, de humildade e de submissão confiante. Ajuda a sair das armadilhas da concupiscência: ao chamar o homem, Deus desperta e dirige seu desejo para bens mais capazes de preenchê-lo do que aqueles que são objeto de sua concupiscência imediata. Libertado do medo: ao torná-lo disponível aos chamados de Deus, o crente recebe um estímulo e uma força que lhe permitem superar seus medos e sair do estreito círculo de proteções em que ele se deixa trancar com muita frequência.

Gabriel de Santa Maria, em "LA LLAMADA, CAMINO DE LIBERTAD". Texto integral e original disponível em <https://lahesiquia.wordpress. com/2018/07/10/la-llamada-camino-de-libertad/>. Tradução livre.

7.7.2018

Vivendo onde mora o amor

Tanto o Antigo como o Novo Testamento costumam usar palavras diferentes para se referir à sua própria casa, ao "lar". Os Salmos frequentemente falam da nostalgia de morar na casa de Deus e de encontrar proteção no santo templo de Deus; louve o lugar santo de Deus, a maravilhosa tenda de Deus, o refúgio seguro de Deus.

Poderíamos até dizer que a expressão "morar na casa de Deus" resume todas as aspirações expressas nessas inspiradas orações. É por isso que é altamente significativo quando São João descreve Jesus como sendo a Palavra de Deus que habita entre nós (Jo 1,14). São João também se refere ao fato de que Jesus é gradualmente revelado aos seus discípulos com sendo o novo templo (Jo 2,19). Esta ideia é expressa mais claramente no discurso de despedida, onde Jesus se revela como o nosso verdadeiro eu: "Permanece em mim, como eu permaneço em ti" (Jo 15, 4).

Jesus, em quem habita a plenitude de Deus, tornou-se nosso lar. Ao estabelecer sua morada em nós, ele nos permite estabelecer nossa morada nele. Ao se tornar íntimo de nosso eu mais profundo, Jesus nos oferece a oportunidade de participar de sua própria intimidade com Deus. Ao escolher-nos como sua casa preferida - seu lar -, ele está nos convidando a escolhê-Lo como nossa morada preferida, como o nosso lar.

Podemos nos perguntar, então: seremos capazes de viver onde o amor habita, ou estamos tão acostumados a viver com medo que nos tornamos surdos à voz que diz: "Não tenha medo!"?

Henr J. M. Nouwen (et alia). Formación espiritual. Siguiendo los impulsos del espíritu. Sal Terrae. Santander, 2011, pp. 140s. [Espaciado, Fraternidad]

Original disponível em <https://lahesiquia.wordpress.com/ 2018/06/13/ vivir-donde-mora-el-amor/>. Tradução livre.

1.7.2018

Caminho de vida e morte de Jesus

(...) Jesus inseriu de alguma forma, talvez na noite escura da fé, mas com plena consciência de sua missão, sua morte iminente em sua prédica do reino de Deus. (...)

A morte de Jesus não se deve separar de todo o contexto do seu caminho da vida, de sua mensagem e do seu modo de viver; do contrário, o significado redentor da morte de Cristo vira mito, e muitas vezes até mito sádico e cruel. Quando se abstrai da prédica e prática de Jesus, que o levaram à morte, obscurece-se o conteúdo cristão do sentido salvífico de sua morte. A morte de Jesus é a expressão histórica da incondicionalidade de sua prédica e prática, perante a qual pouco importavam as consequências fatais para sua vida. (...)

 

Precisamos olhar a vida e a morte de Jesus como um todo, e não podemos contemplar isoladamente o sentido de sua morte. Dar a vida pelos outros constituía na verdade a maior prova de amor e amizade, mas unicamente se, concretamente, se excluísse outra solução e em consequência fosse impossível. Não foi Deus, para quem, de acordo com o Levídico (Lv 18,21-30; 21,1-5), "sacrifícios humanos são um horror", que levou Jesus à Cruz. Foi ação de homens. Deus vem com força e poder, mas a força divina não conhece nenhum uso do poder, sequer contra os homens que crucificam o seu Cristo. Mas o reino de Deus vem, todavia, apesar do abuso do poder por parte dos homens e de sua rejeição do reino de Deus.

Edward Schillebeeckx em "História humana - revelação de Deus".

24.6.2018

As quatro velas

Quatro velas estavam queimando calmamente. O ambiente estava tão silencioso que se podia ouvir o diálogo que travavam.

A primeira disse:

- Eu sou a Paz! Apesar da minha luz, as pessoas não conseguem me manter, acho que vou apagar.

E, diminuindo devagarzinho a sua chama, apagou totalmente.

A segunda disse:

- Eu me chamo Fé! Infelizmente sou muito supérflua. As pessoas não querem saber de Deus. Não faz sentido continuar queimando.

Ao terminar sua fala, um vento bateu sobre ela levemente e fez com que se apagasse.

Baixinho e triste, a terceira vela se manifestou.

- Eu sou o Amor! Não tenho mais forças para queimar. As pessoas me deixam de lado, só conseguem enxergar a si mesmas, esquecem-se até mesmo daqueles à sua volta que as amam.

E, sem esperar, apagou-se.

De repente, uma criança entrou no recinto e viu as três velas apagadas. Pegou a vela que restava acesa e acendeu todas as outras.

A quarta vela chamava-se esperança.

Dom Itamar Vian e Frei Aldo Colombo em "Abrindo Caminhos".

17.6.2018

A parábola sobre a parábola

Perguntaram uma vez ao Dubner Maggid: “Porque razão têm as parábolas um efeito tão grande nas pessoas?” Ao que o pregador respondeu: “Posso explicar contando uma parábola.”


E foi esta a parábola que contou:

Há muitos, muitos anos, a Verdade caminhava pelas ruas, nua como no dia em que nasceu. O povo recusava deixa-la entrar nas suas casas naquele estado. Qualquer pessoa com quem ela se cruzasse fugia a sete pés. Vagueava a Verdade com grande tristeza quando um dia se cruzou com a Parábola, que se vestia com roupas de esplêndidas cores. A Parábola perguntou-lhe: “Diz-me amiga, o que te faz andar tão triste?” Ao que a Verdade respondeu: “É terrível, minha irmã. Sou muito velha e por isso ninguém me liga.”

 

“Não é por causa da tua idade que as gentes não gostam de ti. Eu também sou velha, mas quantos mais anos passam mais as pessoas me apreciam. Deixa-me dizer-te um segredo: o povo gosta de adornos e encobrimento. Vou emprestar-te algumas das minhas roupas e verás como o povo também vai gostar de ti.”

 

E assim foi. A Verdade seguiu o conselho e vestiu as roupas da Parábola. Desde esse dia, a Verdade e a Parábola passaram a andar sempre juntas e o povo gosta das duas.

Rabino Yakov Krantz (1740-1804), conhecido como “o Pregador de Dubno” (Dubner Maggid), Ucrânia.

 

Disponível em <http://www.miniweb.com.br/cantinho/ infantil/ 38/estorias_miniweb/contos_rabino.htm>.

10.6.2018

O pecado contra o Espírito Santo

Por que razão é a blasfémia contra o Espírito Santo imperdoável? Em que sentido devemos entender esta blasfémia? São Tomás de Aquino responde que se trata de um pecado "imperdoável por sua própria natureza, porque exclui aqueles elementos graças aos quais é concedida a remissão dos pecados". De acordo com esta exegese, a blasfémia não consiste propriamente em ofender o Espírito Santo com palavras; consiste antes na recusa de aceitar a salvação que Deus oferece ao homem, mediante o mesmo Espírito Santo, que age em virtude do sacrifício da Cruz. Se o homem rejeita deixar-se "convencer quanto ao pecado", convicção que provém do Espírito Santo (Jo 16,8) e tem carácter salvífico, rejeita simultaneamente a "vinda" do Consolador (Jo 16,7), aquela «vinda» que se efetuou no mistério da Páscoa, em união com o poder redentor do sangue de Cristo: o sangue que "purifica a consciência das obras mortas" (Heb 9,14).

(...) A blasfémia contra o Espírito Santo é o pecado cometido pelo homem que reivindica o seu pretenso "direito" de perseverar no mal — seja ele qual for — e recusa por isso mesmo a redenção. O homem fica fechado no pecado, tornando impossível da sua parte a própria conversão e também, consequentemente, a remissão dos pecados, que considera não essencial ou não importante para a sua vida. É uma situação de ruína espiritual, porque a blasfémia contra o Espírito Santo não permite ao homem sair da prisão em que ele próprio se fechou.

João Paulo II

20.5.2018

Pentecostes: uma vida sob a ação do Espírito Santo

(...) Quando falamos da vida segundo o Espírito, não devemos imaginar uma vida fora da realidade, desvinculada de si mesma; aliás, a vida humana é composta pela realidade física, biológica, psíquica e espiritual. Nenhuma deve ser descartada, pois o ser humano é um todo. Devemos ter bem claro isso: somos um conjunto, mas precisamos reconhecer que, quando a vida espiritual vai mal, as outras realidades acabam indo mal; e quando se vive uma espiritualidade sadia, consegue-se superar o males físicos, biológicos e psíquicos. Quando há saúde espiritual, os males em outras áreas podem não ser sanados, mas superados pela força do Espírito. O mal físico e a violência podem nos impedir de caminhar alguns metros e nos limitar, enquanto o Espírito nos leva a distâncias longínquas, porque n’Ele somos livres.

Hoje, sem dúvida, temos de valorizar a vida espiritual, uma vida segundo o Espírito de Deus. Em nosso tempo, uma das grandes dificuldades que as pessoas vivem é uma vida sem sabor, sem sentido, uma vida de erros, à qual chamamos de pecado. Uma vida sem o auxílio do Alto é fadada ao fracasso, susceptível às doenças psíquicas e físicas. Quantas pessoas doentes no espírito, quantas pessoas perdidas!

Formação, Canção Nova

8.4.2018

"Vede as minhas mãos e os pés:  sou eu mesmo"

A entrar no Cenário com as portas trancadas, Cristo foi, uma vez mais, que é Deus pela natureza, embora não seja diferente da ideia vivida com os seus discípulos. Ao descobrir-lhes o lado, mostrando-lhes como marcas dos cravos, mostram-se que foram reconstruídos o templo do seu corpo, que é um suspeito da cruz (cf. Jo 2.19), destruindo a morte física, uma vez que Ele é, por natureza, a vida e é Deus. [...] 

O que quer que seja necessário para tornar-se visível para os nossos clientes? [...] Foi por isso, com a observação de planos divinos, Nosso Senhor Jesus apareceu no Cenário ainda com uma formação que não tem passado, e não é um segundo que é dedicado e convém ao seu templo transfigurado. Ele não queria que a fé na ressurreição dissesse respeito a um homem e as pessoas que foram fechadas na Santíssima Virgem e nos seus últimos dias, depois de ter sido crucificado, segundo como Escrituras. [...] 

O Senhor saúda os seus discípulos dizendo-lhes: "A paz esteja o convento". Deste modo, declarar que Ele próprio é uma paz, porque é um bom usufruto da sua presença também de um espírito perfeitamente pacificado.Para S. Paulo, uma paz de Cristo, que ultrapassa todo o sentido de ser concebido, não é senão o seu Espírito ( cf Jo 20,21-22); aquele que participa no seu coração será cumulado de todos os bens.

(São Cirilo de Alexandria (380-444), bispo, doutor da Igreja)

31.3.2018

Os ovos são o símbolo do nascimento. Ali dentro, uma vida por vir ao mundo. É o eterno milagre da vida que renasce todos os dias. O coelho é o animal que se reproduz com uma velocidade estonteante, é uma ode à família, uma declaração de amor que a natureza faz todos os dias. Renascer é nascer, somos nós mesmos que renascemos nos nossos filhos, é a vida que se pereniza na prole. A fuga dos hebreus é o fim da escravidão de um povo. A escravidão equivale à morte, escravizar equivale a tirar a vontade e a alma de alguém, equivale a tirar sua vida. Se libertar da escravidão é viver de novo, é renascer, é estar sempre começando tudo de novo. Por fim, Jesus é a ressurreição. Quer prova mais clara do que digo? Este eterno milagre que nos encanta é o milagre da vida que a Páscoa nos relembra. A Páscoa é a ressurreição das nossas almas. Este é o dia de renascer, começar tudo de novo. De nos libertamos do mal que corrompeu nossas almas e nos recobrirmos com o véu da pureza da alma que tivemos um dia. Abandonar tudo o que é velho e antigo e olhar pra frente com coragem. Nos dedicarmos à vida como quem sorve o sumo de um fruto saboroso. Hoje é dia de renascer. (Benno Assmann)

25.3.2018

"Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos" (Jo 15,13)

 

A vossa fé reconhece quem é este grão de trigo que cai à terra e que morre antes de dar muito fruto; Ele habita na vossa alma; nenhum cristão duvida de que Cristo falava de Si mesmo. [...] Escutai-me, grãos de trigo sagrados que aqui vos encontrais, [...] ou melhor, escutai através de mim o primeiro grão de trigo, que nos diz: não ameis a vossa vida neste mundo; não a ameis se verdadeiramente a amais, pois é não a amando que a salvareis. [...] "Quem ama a sua vida, perdê-la-á". 

Quem assim fala é o grão lançado à terra, Aquele que morreu para dar muito fruto. Escutai-O, porque Ele faz aquilo que diz. Ele instrui-nos e mostra-nos o caminho com o seu exemplo. Com efeito, Cristo não reivindicou a sua vida neste mundo, mas veio para perdê-la, para entregá-la por nós, e para retomá-la quando quis [...]: "Ninguém ma tira, mas sou Eu que a ofereço livremente. Tenho poder de a oferecer e poder de a retomar" (Jo 10,18). 

 

(Santo Agostinho, bispo de Hipona)

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